Dados revelados pelo mapeamento das edições de 2020 e 2019 serviram de base para políticas incorporadas a partir da edição lançada este ano, com vagas afirmativas e maiores oportunidades para artistas do interior cearense
Uma das principais esferas formativas da Porto Iracema das Artes — instituição da Secretaria da Cultura (Secult) gerida em parceria pelo Instituto Dragão do Mar (IDM) –, os Laboratórios de Criação chegam este ano à sua 9ª edição e, para dar mais transparência sobre aqueles que acessam o programa, a Escola divulga ao público um mapeamento sobre o perfil de artistas que se candidataram e que foram selecionados(as/es) e matriculados(as/es) nas duas últimas edições, em 2020 e 2019. As informações estão disponíveis AQUI.
O objetivo é aprimorar a política de formação em artes oferecida nestes oito anos da Escola. A professora Bete Jaguaribe, diretora de formação e criação do IDM e da Porto Iracema, acentua a importância da pesquisa. “Os processos de formação do Porto Iracema das Artes são desenvolvidos a partir de uma rigorosa observação das experiências, sempre numa perspectiva inclusiva e democrática. Os dados levantados nos últimos dois anos nos orientaram a tomar decisões que consolidam nossas práticas inclusivas, garantindo a ampliação das ações do Porto Iracema a um público mais diverso”, destaca a professora.
De 2013 a 2020, 413 artistas passaram pelos Laboratórios de Criação e 173 projetos foram desenvolvidos em Artes Visuais, Cinema, Dança, Música e Teatro. As pesquisas artísticas resultaram em 46 roteiros de longa-metragem, 34 espetáculos de teatro, 34 shows e álbuns musicais produzidos, 24 espetáculos de dança, três grandes exposições, uma publicação coletiva e 36 trabalhos autorais em artes visuais. Os dados foram colhidos através dos formulários de inscrição das duas últimas edições e de questionários aplicados aos artistas pela secretaria escolar do Porto Iracema. Foram solicitadas respostas sobre a origem, a raça, o gênero, a orientação sexual, a condição profissional e a renda.
Diversidade
Entre os destaques, é possível perceber, que, mesmo sem a adoção de vagas afirmativas, medida incorporada aos regulamentos a partir deste ano, houve um significativo aumento do número de artistas autodeclarados pretos entre 2019 e 2020. Na última edição, foram 57% dos artistas matriculados; no ano anterior, esse número era de apenas 31,68%.
Também chama atenção a ampliação, mesmo que ainda tímida, da diversidade na categoria de gênero. Em 2019, apenas 5,12% se declararam não-binários ou mulheres trans, enquanto mais de 24% optou por não informar sua identificação de gênero. Já em 2020, 7,56% dos 54 matriculados se identificaram como LGBTQIA+ (sigla que inclui Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis, Transgêneros, Queer, Intersexuais e Assexuais). Na última edição das Artes Visuais, 12,5% se autodeclararam travestis e, no Teatro, 16,67% pessoas se identificaram como não-binárias. A Dança foi o laboratório em que mais artistas adotaram outras classificações de gênero que não a masculina e a feminina, 24,9%.
A Assessora para Cultura da Diversidade do Instituto Dragão do Mar, Helena Vieira, enfatiza a importância do mapeamento lembrando que um dos grandes desafios da gestão pública costuma ser a produção de dados, sobretudo relacionados à diversidade. “Nós fazemos política pública de diversidade justamente a partir dos dados que a gente tem. Esse mapa é fundamental por isso, porque vai tornar as informações de participação mais transparentes, todo mundo vai poder consultar, e vai dar pra gente um norte de como a política está funcionando, de qual tem sido o impacto transformador dos Laboratórios”, destaca a também escritora e transfeminista. “Ele traz um quadro geral de quem tem participado, quais populações a gente tem atendido, que tipo de projetos têm sido aprovados. E isso orienta como a gente fortalece a política para aumentar a participação de pessoas trans e de outros sujeitos”, afirma.
Cidades de origem, condição profissional e renda
Em relação à distribuição das vagas pelo Ceará, notou-se uma grande concentração de inscrições vindas de Fortaleza, com mais de 70% nas duas edições mapeadas. A tendência permanece nas matrículas, embora com leve queda, e é possível perceber que Juazeiro do Norte, Crato, Iguatu e Quixeré são os municípios fora da capital cearense que mais acessaram os Laboratórios nos dois últimos anos. Um destaque da edição 2020 foi a presença de 57.14% de artistas de Juazeiro e do Crato no Laboratório de Artes Visuais.
O mapeamento revela, ainda, que a maioria dos matriculados nos Laboratórios de Criação é formada por profissionais autônomos. Esta era a situação de 55.56% dos artistas da edição 2020. Quanto à renda,12,96% afirmaram ganhar menos de um salário mínimo por mês (à época, R$ 1.045,00) e 33.33% até 1,5 salário (então, R$ 1.497,00). Em 2019, esses questionamentos não constavam no formulário.
SOBRE A ESCOLA
A Porto Iracema das Artes é a escola de formação e criação em artes do Governo do Estado do Ceará, instituição da Secretaria da Cultura (Secult) gerida pelo Instituto Dragão do Mar (IDM). Criada em 29 de agosto de 2013, há oito anos desenvolve processos formativos nas áreas de Música, Dança, Artes Visuais, Cinema e Teatro, com a oferta de Cursos Básicos e Técnicos, além de Laboratórios de Criação. Todas as ações oferecidas são gratuitas.
SERVIÇO
O quê: Porto Iracema das Artes lança site com mapeamento sobre perfil de artistas dos Laboratórios de Criação
Acesse http://map.portoiracemadasartes.org/ e confira!
Equipe de Assessoria de Comunicação do Porto Iracema das Artes | Texto: Raphaelle Batista | Publicado em 27/09/2021