A apresentação pública (pitchings) do Laboratório de Audiovisual que aconteceu durante a 4ª Mostra de Artes do Porto Iracema, mostrou a defesa dos seis projetos de longa-metragem desenvolvidos em 2016. Os roteiros “Mara Hope”, de Alan Góes e Marcos Ferreira, e “Paulércia”, de Vinicius Moraes e Geovana Nunes, foram premiados pela Escola Porto Iracema das Artes com passagem e hospedagem para o Rio de Janeiro para participar do Rio Content Market 2017, impressão do projeto gráfico do filme e um ano de entrada gratuita no Cinema do Dragão – Fundação Joaquim Nabuco.
A comissão julgadora que avaliou a melhor apresentação do roteiro era formada por representantes do mercado cinematográfico, com uma sólida trajetória no Audiovisual e na Literatura. A banca era formada por: Eduardo Valente (cineasta, crítico e curador de cinema), Diana Almeida (produtora da Lacuna Filmes), Carlos Pinto (roteirista, dramaturgo e docente), Juliana Soares (roteirista e produtora criativa da Gullane), Joca Reiners Terron (escritor, editor e tradutor), Tiago Santana (fotógrafo e editor), Socorro Acioli (escritora) e Glauber Paiva Filho (cineasta e docente).
O júri optou por não definir o primeiro e segundo lugar da premiação, decidindo que os dois projetos fossem os ganhadores dos mesmos prêmios. A premiação levou em consideração critérios como o potencial criativo do projeto, a partir do conceito da proposta audiovisual (25%), a abrangência e clareza do tema, ou seja, a comunicabilidade e adequação da proposta ao público-alvo e canais de veiculação (25%), a estrutura dramática, proposta de arco narrativo e construção e adequação dos personagens à trama (25%) e a qualificação da apresentação das ideias com o domínio do tema e da proposta, clareza e desenvoltura na defesa do projeto (25%). A diretora do Porto Iracema, Elisabete Jaguaribe, observa que os seis projetos ” têm um forte potencial para seguir carreira no campo audiovisual. A seleção cumpre um ritual, adensa o debate e aprofunda as reflexões. Mais temos até hoje 22 projetos que passaram pelo Laboratório e estão prontos para seguir trajetórias próprias, em novos laboratórios e editais”.
Os pitchings tiveram um total de 30 minutos para cada projeto, tendo sido 15 minutos de defesa dos autores e outros 15 minutos de perguntas e feedback por parte da platéia e dos convidados.
O Laboratório de Audiovisual do Porto Iracema das Artes tem como objetivo desenvolver roteiros para longa-metragem, em qualquer gênero, abordando os aspectos de escrita cinematográfica: estrutura dramática, trama e subtrama, criação de personagens e formatação de roteiro. Além de ampliar as habilidades narrativas, o Laboratório visa contribuir para a atuação profissional no mercado cinematográfico. São tutores do laboratório os cineastas Karim Ainouz, Sérgio Machado e Marcelo Gomes.
A IV Mostra de Artes do Porto Iracema realizou, durante todo o mês de dezembro, mais de 25 apresentações de projetos desenvolvidos durante 2016 da escola nas linguagens de audiovisual, música, artes visuais, teatro e dança. As apresentações envolvem espetáculos de dança e de teatro, oficinas em diversas áreas, masterclass, shows musicais, pitching de cinema, exibições de curtas e exposições. Os projetos apresentados na IV MOPI – Mostra de Artes são o resultado de um ano letivo intenso em que é proporcionado a interação e a transversalidades entre as cinco linguagens trabalhadas na escola.
Conheça abaixo os roteiros desenvolvidos em 2016 no Laboratório de Audiovisual da escola Porto Iracema das Artes.
Mara Hope (de Alan Góes e Marcos Ferreira) – Ceará
Fortaleza, 2020. A prefeitura municipal executa o ambicioso Projeto Mara Hope, praticando o desmonte do navio encalhado homônimo ao projeto e diversas obras infindáveis pela cidade. Enquanto o desenvolvimento prometido não chega, seis habitantes de diferentes regiões da cidade são afetados pelas intervenções produzidas no espaço urbano. Na região da Barra do Ceará, Batista, um tratorista de meia-idade, recusa-se a concluir a demolição de uma casa ao se deparar com a dona da residência ainda habitando o local. Na Aldeota, Laura enfrenta seu medo de ficar sozinha no escuro quando ocorre uma queda de energia no seu prédio. No Benfica, Leona reencontra seu ex-namorado em uma ocupação contra o projeto Mara Hope. No Siqueira, após fugir de casa, Layssa procura seu irmão, com o qual não mantém contato há anos. Na Messejana, Gia, uma pescadora, após ser removida da orla da cidade, finaliza a mudança para sua nova moradia ao transportar o seu antigo instrumento de trabalho: uma canoa. No Antônio Bezerra, Jerome foge do abrigo em que mora em busca de reencontrar seu filho e o caminho de sua antiga casa.
Paulércia // Rota de Fuga – (de Vinicius Moraes e Geovana Nunes) – Ceará
Dércio, biscateiro e ladrão de quinta categoria, precisa ajudar Paula, sua amiga prostituta e parceira de trambiques, a abortar o feto que cresce em sua barriga. Vivendo nas ruas do Centro da cidade de Fortaleza, conseguem dinheiro às custas de pequenos golpes e de prostituição, economizando para se adiantarem em novecentos reais e investir no Citotec, remédio que promete fazer Paula se livrar do bucho em que se meteu. Quando o dinheiro para o aborto já está “raso”, ou seja, quando falta muito pouco dinheiro, a gravidez de Paula já vai adiantada. Dércio, então, rouba a pessoa errada e roda na mão de uma galera da pesada, que lhe bate e leva toda a grana das economias. Sem dinheiro, sem casa e com uma bomba relógio crescendo na barriga de Paula, um ato desesperado muda a sorte da dupla, que agora pode fazer a festa do aborto e nela planejar como serão suas vidas daqui pra frente.
Madrinha de Guerra (de Samarkandra Pimentel e Fernando Pimentel) – Ceará
Fortaleza, 2016. Celina (71) e Ana Clara (42) são mãe e filha que levam uma vida conflituosa sob o mesmo teto. Após descobrir sofrer de um mal cardíaco, Celina decide viajar para Portugal com a filha, sob o pretexto de pagar uma promessa, quando, na verdade, busca encontrar Amaro, seu amor de juventude, um antigo combatente da guerra colonial, tendo como única pista sua última carta enviada há mais de 50 anos. Nas complicações da busca, mãe e filha se acertam, mas dão rumos inesperados a suas vidas.
Assuntos Inacabados (de Hugo Damasceno e César Augusto) – Ceará
Atormentado pela culpa de ter saído impune de um crime que não queria cometer, um dedicado policial militar precisa lidar com a gravidez de risco de sua esposa enquanto é arrastado para um caminho de violência por um inescrupuloso empresário.
O Enterro de Neide (de Rodrigo Luna e Pedro Perazzo) – Bahia
Marcela, uma mulher negra, decide levar as cinzas de sua mãe, Neide, para despejar nas águas de uma represa em Rio de Contas, Chapada Diamantina. As águas inundaram a comunidade em que a família delas vivia. Uma viagem que força Marcela a confrontar sua própria história e acertar as contas com aqueles que se aproveitaram de sua desgraça.
Trevosas da Tijuca (de Rodrigo Almeida) – Pernambuco
Num mundo em que o sol parou de brilhar, mergulhado na indiferença entre realidade e espetáculo, Will, Luciana e Felipe/Samira, três bichas góticas, buscam o sucesso num obscuro e performático processo seletivo promovido pela Mama Trevas, uma antiga atriz de filmes de horror pornográfico. Após fracassarem sucessivas vezes, as trevosas meteoricamente se tornam famosas por acaso, quando é viralizado um vídeo em que aparecem confrontando a LUZ, uma enigmática e polêmica figura repressiva, capaz de transformar pessoas “desconstruídas” em reacionárias. No entanto, diante do risco iminente de voltarem ao anonimato, as bichas sequestram a famosa e idolatrada atriz Suzete Viana. Nasce, assim, um cativeiro delirante, numa mescla de obsessão midiática profunda com um rarefeito desejo político de conter a crescente força conservadora de um mundo afundado na escuridão.
Conheça os convidados do Laboratório de Audiovisual para o Pitching Final:
Eduardo Valente (RJ) – cineasta, crítico e curador de cinema, formado em cinema pela UFF, com mestrado na USP. Dirigiu três curtas e um longa-metragem, todos exibidos em distintas mostras do Festival de Cannes, entre outros. Foi editor das revistas de crítica Contracampo (1998-2005) e Cinética (2006-2011). Fundador da Semana dos Realizadores (2009), fez curadoria para vários festivais do Brasil, entre eles o de Brasília em 2016. Entre 2011 e 2016 trabalhou como Assessor Internacional da ANCINE. Atualmente é o delegado para o Brasil do Festival de Berlim.
Diana Almeida (SP) – Diana Almeida é uma produtora Brasileira-Moçambicana que mora e trabalha em São Paulo. Ela nasceu em Maputo em 1983 e formou-se na Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo. Em 2006, participou da fundação da LACUNA FILMES, com Daniel Ribeiro, com quem produziu vários curtas. Vale a pena mencionar “Alguns Recados” (2006), dirigido por Thiago Faelli, que participou dos mais importantes festivais brasileiros como os festivais de Brasília e de Gramado; “CAFÉ COM LEITE” (2007), dirigido por Daniel Ribeiro, que estreou internacionalmente no Berlinale 2008, recebeu o Urso de Cristal de melhor curta na mostra Generation e foi exibido em mais de 80 festivais em todo o mundo tendo recebido 33 prêmios; e “EU NÃO QUERO VOLTAR SOZINHO” (2010), dirigido por Daniel Ribeiro, que foi exibido em mais de 100 festivais em todo o mundo, recebendo mais de 80 prêmios. Em 2014 Diana lançou seu primeiro longa, “HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO”, também dirigido por Ribeiro. O filme teve a sua estreia mundial na Berlinale, recebendo os prêmios FIPRESCI e Teddy. Já foi exibido mais de 80 festivais, recebendo 44 prêmios e foi o filme escolhido para representar o Brasil no Oscar de 2015 Em 2015 produziu e lançou o documentário “O DISCRETO CHARME DE UMA CAMPEÔ, que estreou em dezembro na ESPN e atualmente finaliza o longa-metragem “AS DUAS IRENES”, dirigido por Fabio Meira.
Carlos da Silva Pinto (SP) – É roteirista, dramaturgo e docente. Graduado em RTV e mestrado em dramaturgia de séries televisivas pela ECA USP. Estudou e trabalhou em Florença e Roma. Viveu na Alemanha onde trabalhou como Storyliner (desenvolvedor de escaletas) na soap-opera “Verbotene Liebe”; e em outros projetos para a Grundy UFA. Autor do roteiro de longa “Der Brasilianer”, premiado pela Prefeitura de São Paulo em 2009. Autor da série “Taxista Empreendedor” para a TV Brasil, 2011. Co-autor da série dramática “Olho por Olho”, de 2015, em desenvolvimento no Brasil pela Gullane filmes e nos EUA pela Wise Entertainment. Participou da Oficina de Teledramaturgia na Rede Globo em 2010. Desde 2001, membro do Nudrama, grupo de pesquisa em dramaturgia audiovisual da ECA USP. Desde 2010 leciona na pós graduação em roteiro de ficção audiovisual do Senac Lapa Scipião. Mora atualmente entre São Paulo e Berlim.
Juliana Soares (SP) – Roteirista e produtora criativa da Gullane, formada em Rádio e TV pela Faculdade Cásper Líbero, com especialização em Roteiro Audiovisual pelo SENAC e Dramaturgia pela ROTEIRARIA ESCOLA. Em 2004, foi premiada pelo concurso Rumos Itaú Cultural – Audioficção, como roteirista e produtora da adaptação do conto literário “Infiltrado” de Roberto de Sousa Causo. De 2005 a 2008, atuou como analista de Comunicação e como produtora e roteirista de Publicidade para diversas agências e produtoras. Desde 2011, trabalha na produtora Gullane, tendo passado pela Produção e Produção Executiva. Desde 2014, coordena o departamento de Desenvolvimento da produtora, responsável pela análise e acompanhamento dos projetos da casa e pela prospecção e avaliação de novos projetos. A Gullane é reponsável por filme como O Bicho de Sete Cabeças, Carandiru, O Lobo Atrás da Porta, Que Horas Ela Volta?, entre outros.
Joca Reiners Terron (SP) – Joca Reiners Terron é escritor, editor e tradutor (Cuiabá, 1968). Publicou livros de poemas e narrativas, além dos romances “Não Há Nada Lá” (2011), “A tristeza extraordinária do leopardo-das-neves” (2013) e “Do fundo do poço se vê a lua”, todos pela Companhia das Letras. Por este último, recebeu o Prêmio Machado de Assis da Biblioteca Nacional, em 2010. Traduziu obras de Enrique Vila-Matas, Richard Brautigan, Mario Levrero e Roberto Bolaño. Seu próximo romance, “Noite dentro da noite”, ganhador do Petrobras Cultural, será publicado em março de 2017 pela Companhia das Letras.
Tiago Santana (CE) – Tiago Santana, fotógrafo e editor, atua desde 1989, desenvolvendo ensaios fotográficos pelo Brasil e América Latina. Em 1994 foi contemplado com a Bolsa Vitae de Artes, com o projeto Benditos, livro publicado em 2000 e o Prêmio Marc Ferrez de Fotografia em 1995. Em 2007 recebeu o Prêmio Conrado Wessel de Ensaio Fotográfico e o e o Prêmio da APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte, pelo ensaio O Chão de Graciliano, livro editado em 2006. Foi o ganhador do prêmio O Melhor da Fotografia no Brasil 2007/08 e 2009. Em 2010 ganha o Prêmio Porto Seguro Brasil de Fotografia. Tiago tem seu trabalho publicado em jornais, revistas e livros no Brasil e no exterior. Sua obra e integra importantes acervos e coleções de fotografia. Em 2011 foi o segundo brasileiro a ter seu trabalho publicado na importante coleção de fotografia francesa Photo Poche. Em 2014 publicou o livro Céu de Luiz, também em parceria com o jornalista Audálio Dantas. Organizou diversas exposições e festivais de fotografia e foi jurado dos mais importantes editais e concursos no Brasil. É fundador da Editora Tempo D’Imagem.
Socorro Acioli (CE) – Nasceu em Fortaleza, em 1975. É jornalista, mestre e doutora em estudos de literatura pela Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro. Foi bolsista da Biblioteca Internacional da Juventude de Munique e aluna de Gabriel García Márquez, ganhador do prêmio Nobel, na oficina Como Contar um Conto, em Cuba. Escreveu diversos livros, entre eles Ela tem olhos de céu (editora Gaivota), que recebeu o prêmio Jabuti de literatura infantil em 2013 e o romance “A cabeça do Santo” publicado pela Companhia das Letras, Dellacorte Press (USA) e Hot Key Books (UK).
Glauber Filho (CE) – O cineasta Glauber Filho é jornalista formado pela Universidade Federal do Ceará. Possui pós-graduação em Administração e Marketing e é mestrando em Cultura e Artes pela UTAD – Portugal. Atua também como professor universitário em cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Audiovisual e Novas Mídias. Foi Presidente da TV Ceará (Televisão Educativa) e faz parte da Associação Cearense de Cinema e Vídeo (ACCV) e da Associação dos Produtores de Cinema do Norte e Nordeste (APCNN). Além de “As Mães de Chico Xavier”, sua produção cinematográfica inclui, entre outras obras, aquela que é considerada a primeira produção genuinamente cearense, “Bezerra de Menezes – O Diário de Um Espírito”, filme que encantou o país em 2008, levando milhares de espectadores ao cinema para conhecer a vida do médico espírita Bezerra de Menezes.
