Escola de Formação e Criação do Ceará

Fotos do atelier de Hariel Revignet em julho 2021, Goiânia - Brasil

Porto Iracema das Artes inicia ano letivo 2023 com programação especial nas diversas linguagens artísticas

Programação acolhe estudantes em atividades internas e em eventos gratuitos e abertos ao público na semana de 12 a 17 de junho

O ano letivo 2023 da Escola Porto Iracema das Artes – instituição da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult) gerida em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM) – inicia-se nesta segunda-feira, 12 de junho, com programação especial orientada pela perspectiva de reflexão sobre as “Poéticas do Tempo Presente”, o operador poético que mobilizará os processos de criação e formação da Escola durante todo o ano. A programação da semana inicia com a recepção dos 185 novos estudantes, seguida pelo programa “Navegações Estéticas”, que reúne artistas convidados que orientarão as primeiras experiências de criação. Participam do programa o dramaturgo indígena Juão Nÿn, o cineasta indígena Kuaray Poty (Ariel Ortega), a artista visual Hariel Revignet, a coreógrafa Carmen Luz e a dramaturga Ana Cândida Carneiro, numa primeira semana de imersão em oficinas e debates.

O “Navegações Estéticas” é um programa que promove os primeiros encontros dos estudantes com as experiências artísticas. “A ideia é fazer uma acolhida potente, inspiradora, promovendo o contato dos estudantes com artistas-formadores diversos, construindo conexões entre as experiências aqui na cidade e a cena artística de outros estados, discutindo questões atuais que atravessam a criação artística e a educação” – observa Edilberto Mendes, Coordenador de Formação da Porto Iracema.

Já Elisabete Jaguaribe, Diretora de Formação do Instituto Dragão do Mar/Porto Iracema das Artes, destaca a importância do Ano Letivo 2023 no contexto de dez anos da escola Porto Iracema das Artes. “O projeto chega aos dez anos com proposta consolidada, mas com uma série de desafios. Nesse sentido, nosso operador poético deste ano, “Poéticas do Tempo Presente”, nos convoca a aprofundar nossas reflexões, especialmente no que se refere ao diálogo com o que nos demanda a experiência contemporânea” – observa Bete Jaguaribe, lembrando que os artistas que compõem a programação de abertura do ano letivo trazem poéticas que pautam questões estratégicas, que favorecem as reflexões que a Escola promoverá durante este ano. “São poéticas relacionadas às nossas ancestralidades indígenas e africanas, que mobilizarão nossa agenda de 2023” – diz a professora.

PROGRAMAÇÃO

A programação tem início na manhã da segunda-feira (12), no Cinema do Dragão, com a acolhida dos estudantes selecionados para compor as turmas do Programa de Formação Básica e do Curso Técnico em Dança. O momento terá ainda a apresentação dos artistas-formadores de 2023, fala de egressos das formações básica e técnica da Escola, apresentações de teatro e dança, e exibição do primeiro corte das produções audiovisuais realizadas pelas turmas de Audiovisual do ano passado.

Na terça-feira (13), às 18h30, no auditório da Porto Iracema das Artes, haverá uma aula aberta ao público com a arquiteta e artista plástica goiana Hariel Revignet, indicada ao Prêmio PIPA 2021, e a coreógrafa e artista visual carioca Carmen Luz. Partindo de suas criações, as artistas debatem as relações entre arte e ancestralidades. Na ocasião, serão exibidos os vídeos-performance “AMARRAÇÃO” (6 min), “A Prece da Terra é Segredo das Arvores” (4 min) e “O Quintal Transatlântico” (6m 16s), de Hariel Revignet.

Na quarta-feira (14), às 19h, em parceria com o Cinema do Dragão, haverá exibição dos filmes “Desterro Guarani” (38m) e “Nossos Espíritos seguem chegando – Nhe’e kuery jogueru teri”, realizados pelo cineasta indígena Kuaray Poty (Ariel Ortega). Em “Desterro Guarani”, o cineasta traz uma reflexão sobre o processo histórico do contato dos Mbya-Guarani com os colonizadores, e tenta entender como seu povo foi destituído de suas terras. Já “Nossos espíritos seguem chegando – Nhe’e kuery jogueru teri”, é um documentário sobre Pará Yxapy, indígena Mbya-Guarani, que se dedica aos primeiros cuidados a seu filho, ainda no ventre, e reflete, junto com seus parentes, acerca dos sentidos de uma gravidez em meio a pandemia de Covid-19 no Brasil.

Na quinta-feira (15), às 19h, o dramaturgo indígena Juão Nÿn lança, no Pátio da Escola, o livro “Tybyra: uma tragédia indígena brasileira”. A obra é uma narrativa futurista sobre Tybyra que se propõe a descristalizar o imaginário brasileiro sobre os povos originários. Inovador, irônico e decolonial, o livro denuncia a violência do Estado e da Igreja Católica sobre a liberdade dos corpos originários em 523 anos de um Brasil atravessado pelo racismo, homofobia, violências, moléstias, roubo de territórios, catequização e etnocentrismo. O livro é uma ficção sobre o primeiro caso de LGBTfobia contra um corpo nativo no País. Tybyra, na linguagem Tupinambá, é símbolo e mártir de uma cultura em que a liberdade afetiva não acreditava no pecado. Juão Nÿn é um dos formadores do Programa de Formação Básica em Artes Cênicas da Porto Iracema em 2023.

A participação dos artistas indígenas inclui ainda momentos de partilha com a Escola de Cinema Indígena Jenipapo-Kanindé – Lagoa Encantada, em Aquiraz, que recebe, na quinta-feira, 15, Kuaray Poty e alunos do Percurso de Audiovisual; e com a Reserva Indígena Taba dos Anacé, em Caucaia, onde Juão Nÿn ministra, na sexta-feira, 16, a aula aberta “ETÉ ATO ou CONTRATEATRO – O Teatro como Contracolonyzação” para a comunidade e alunos do Percurso de Artes Cênicas.

Encerrando o Navegações Estéticas teremos o Ateliê Aberto de Escrita Dramática, espaço de estudos, partilhas e experimentações com foco na escrita dramática. Com atividades mensais, que incluem oficinas, leituras e partilhas de escritas em processo, o ateliê tem como objetivo contribuir para o debate em torno das especificidades e questões da escrita dramática no contexto contemporâneo, onde o termo dramaturgia foi radicalmente expandido, passando a denominar a organização de materiais artísticos, em sentido amplo.

O ateliê abre seu ciclo de atividades com a dramaturga paulista Ana Cândida Carneiro, que realiza na sexta-feira (16), das 18h30 às 21h30, a leitura comentada do texto teatral Plastic Doll. No sábado (17), das 14h às 17h, Ana Carneiro ministra a oficina de Dramaturgia Experimental. Essas atividades são voltadas para interessados em dramaturgia e acontecem na Sala de Teatro da Porto Iracema, com inscrição prévia para 25 vagas. Pessoas interessadas podem inscrever-se clicando NESTE LINK.

 

Confira abaixo a programação completa:

12 de junho, segunda-feira

O quê: Acolhida dos novos estudantes do Programa de Formação Básica e do Curso Técnico em Dança no Cinema do Dragão.
Onde: Cinema do Dragão
Horário: 9h
Momento reservado aos estudantes

13 de junho, terça-feira

O quê: Aula Aberta das artistas Hariel Revignet (GO) e Carmen Luz (RJ). Exibição dos vídeos-performance “AMARRAÇÃO” (6 min), “A Prece da Terra é Segredo das Árvores” (4 min) e “O Quintal Transatlântico” (6m 16s).
Onde: Auditório da Escola Porto Iracema das Artes
Horário: 18h30
Gratuito e aberto ao público

14 de junho, quarta-feira

O quê: Exibição dos filmes “Desterro Guarani” (38 min) e “Nosso Espíritos Seguem Chegando” (15 min), seguida de debate com o cineasta Kuaray Poty (Ariel Ortega)
Onde: Cinema do Dragão
Horário: 19h
Gratuito e aberto ao público

15 de junho, quinta-feira

O quê: Lançamento do livro “Tybyra: uma tragédia indígena brasileira”, de Juão Nÿn.
Onde: Pátio da Escola Porto Iracema das Artes
Horário: 19h
Gratuito e aberto ao público

16 de junho, sexta-feira
17 de junho, sábado

O quê: Ateliê Aberto de Escrita Dramática, com Ana Cândida Carneiro
Onde: Sala de Teatro da Escola Porto Iracema das Artes
Horário: das 18h30 às 21h30 – Sexta-feira
das 14h às 17h – Sábado
Gratuito, com inscrições prévias por meio DESTE LINK

 

SOBRE KUARAY POTY (ARIEL ORTEGA)
Artesão, cineasta e pensador Mbyá-guarani, se dedica ao cinema desde 2007, quando foi diretor do filme Mokoi Tekoa, Petei Jeguata (Duas aldeias, uma caminhada), vencedor do ForumDoc BH de 2008. Depois disso dirigiu outros filmes também premiados como Bicicletas de Nhanderu (2011), Desterro Guarani (2011), Tava, a casa de pedra (2012), Mbya Mirim (2013), e No caminho com Mário (2014). Atualmente mora na Tekoa Koe’ju, em São Miguel das Missões, Brasil, onde desenvolve trabalho de recuperação de áreas florestais degradadas junto ao Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e integra os Coletivos Mbyá-guarani de Cinema e Ará Pyau de Cine (Argentina). Participou da primeira oficina do Vídeo nas Aldeias em 2007 e um ano mais tarde fundou o coletivo mbya guarani de cinema.

SOBRE JUÃO NYN
Multiartista, Potyguar(a), 33 anos, ativista comunicador do movimento Indígena do RN pela APIRN, integrante do Coletivo Estopô Balaio de Criação, Memória e Narrativa e vocalista/compositor da banda Androyde Sem Par, há 9 anos em trânsito entre RN e SP. Autor do livro TYBYRA – Uma Tragédia Indígena Brasileira, é formado em Licenciatura em Teatro pela UFRN e atua como mestre na Escola Livre de Teatro de Santo André coordenando o Terreiro “O Ymagynáryo como Terrytóryo”.

SOBRE HARIEL REVIGNET
Vive e trabalha em Goiânia. Foi indicada ao PIPA de 2021. Desenvolve pesquisas artísticas autobiogeográficas que se manifestam por intersecções entre o social, o ancestral e o espiritual. Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela UFG, desenvolveu o conceito AXÉTETURA que propõe o deslocamento das imposições epistêmicas eurocêntricas-modernas-capitalistas buscando suas referências de espaço, território, lugar, cultura, conhecimentos e formas de saberes a partir da cosmovisão afrocentrada e da Encantaria Indígena.

SOBRE CARMEN LUZ
Nasceu e vive na cidade do Rio de Janeiro. É coreógrafa, diretora de cinema, curadora, docente e artista visual. É mestra em Arte e Cultura Contemporânea pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj); pós-graduada em Teatro pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e pós-graduada em Cinema Documentário pela Fundação Getulio Vargas/RJ. É bacharel e licenciada em Português/Literatura pela UFRJ. É fundadora e diretora artística da Cia. Étnica de Dança. Escreveu, produziu e dirigiu filmes documentários de curta e longa metragem, como Um poema para Quenum (2008), Tia Lucia (2019), Um filme de dança (2013) e os videosartes Um preto (2010) e Panelaço (2020), exibidos em eventos, mostras e festivais de cinema mundo afora. Criou o curso Danças Negras na Faculdade Angel Vianna, onde atua como professora titular.

SOBRE ANA CÂNDIDA CARNEIRO
É dramaturga, diretora e educadora. Coordena o programa de Mestrado em Dramaturgia da Universidade de Indiana, em Bloomington, EUA. É também fundadora do Babel Theater Project, uma organização sem fins lucrativos dedicada ao cruzamento de linguagens, culturas e disciplinas. Sua prática artística e intelectual é fortemente feminista e marcada por sua identidade diaspórica, com mais de vinte anos de vida no hemisfério norte, entre Europa e Estados Unidos.

SOBRE A ESCOLA
A Porto Iracema das Artes é a escola de formação e criação em artes do Governo do Estado do Ceará, instituição da Secretaria da Cultura (Secult) gerida pelo Instituto Dragão do Mar (IDM). Criada em 29 de agosto de 2013, há quase dez anos desenvolve processos formativos nas áreas de Música, Dança, Artes Visuais, Cinema e Teatro, com a oferta de Cursos Básicos e Técnicos, além de Laboratórios de Criação. Todas as ações oferecidas são gratuitas.

SERVIÇO
O quê: Porto Iracema das Artes inicia ano letivo 2023 com programação especial nas diversas linguagens artísticas
Quando: 12 a 17 de junho
Onde: Porto Iracema das Artes e Cinema do Dragão
Gratuito e aberto ao público