Programação ocorre nos dias 29 e 31 de agosto, às 19h, no Pátio da Escola
Referência em formação em artes em todo o país, a Porto Iracema das Artes – Escola da Rede de Rede Pública de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará), gerida em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM) – realiza, nos dias 29 e 31 de agosto, às 19h, o Ciclo Poéticas do Tempo Presente, uma sequência de diálogos que oferecem contribuições às reflexões sobre o atual momento político de reconstrução do campo campo cultural e renovação do pacto social pela democracia. Com base nas experiências formativas da Porto Iracema das Artes ao longo de dez anos, o Ciclo debate a educação em artes num diálogo com questões urgentes do nosso tempo. Nas duas primeiras sessões do ciclo – ambas gratuitas e abertas ao público – as pessoas convidadas debatem sobre arte, educação, ancestralidade e democracia.
Na primeira sessão do Ciclo Poéticas do Tempo Presente, que ocorre no dia 29 de agosto, terça-feira, às 19h, os debates sobre “Arte, educação e ancestralidades” reúnem Fabiano Piúba, secretário de Formação Cultural, Livro e Leitura do Ministério da Cultura (MinC), e Luiz Rufino, doutor em Educação e pesquisador sobre o tema da diáspora africana em crítica ao colonialismo. A mediação é da escritora e pesquisadora Nina Rizzi. A ideia do encontro é, a partir da reflexão do tempo ancestral, propor novas compreensões de temporalidades nas formações artísticas e pedagógicas.
No dia 31, quinta-feira, às 19h, “Arte e democracia” será o tema da conversa de Maria Marighella, presidenta da Fundação Nacional de Artes (Funarte), e Mário Magalhães, jornalista e escritor, que dentre outros livros, escreveu “Marighella: o guerrilheiro que incendiou o mundo”. O encontro dos dois intelectuais se orienta por um diálogo sobre as marcas dos retrocessos antidemocráticos e as construções possíveis no atual momento de recondução das rotas democráticas no País. A mediação é da Secretária da Cultura do Ceará, Luisa Cela.
A programação do dia 31 também inclui uma solenidade de assinatura de um Protocolo de Intenções entre as Secretarias Estaduais da Cultura, Direitos Humanos, Educação e Assembleia Legislativa/Comissão dos Direitos Humanos e Cidadania, com vistas à criação de lugares de memória da ditadura militar. As instituições desenvolverão uma série de projetos com vistas a dar visibilidade ao que foi a ditadura militar. “O Brasil colocou um véu nesse período. Temos a obrigação cidadã de contribuir com o desvelamento desse período. Os jovens precisam saber a tragédia de uma ditadura” – disse a professora, acentuando a importância do protocolo interinstitucional.
“Quando falamos da necessidade de desenvolver políticas públicas para transformar ou para atingir determinadas finalidades, em todas as áreas, isso vai precisar, necessariamente, de tempo. Esse tempo, muitas vezes, fica ali sujeito a determinadas mudanças, alteração de contextos políticos, econômicos, sociais e que, muitas vezes, comprometem a continuidade dessas políticas públicas. Nesse sentido, considero que a Escola Porto Iracema das Artes é um sucesso. Conseguirmos ter uma escola com formação voltada para o campo artístico com ação continuada durante 10 anos já traz, para o Estado do Ceará e para o Brasil, um processo de fortalecimento e de qualificação para o campo artístico”, ressalta Luisa Cela, secretária da Cultura do Ceará.
“O aniversário da escola é sempre comemorado num ambiente de debates sobre processos formativos em artes. Este ano, esses debates se aprofundam numa perspectiva política, em que a pauta da ancestralidade e da democracia ganha centralidade”, observa a diretora de formação do Instituto Dragão do Mar/Porto Iracema das Artes, professora Bete Jaguaribe. A longevidade da Porto Iracema é uma outra questão que mobiliza a fala da professora. “O campo cultural está marcado pela descontinuidade das políticas públicas. Comemorar dez anos de uma escola pública de artes é um gesto político e de festa, especialmente depois de um período tão dramático que o país viveu”, diz a professora, lembrando os anos de Jair Bolsonaro no Governo Federal e a pandemia da Covid-19.
A diretora-presidente do Instituto Dragão do Mar (IDM), Rachel Gadelha, ressalta a importância das “Poéticas do Tempo Presente”, que compreendem diversas temporalidades: “É preciso vermos o tempo como o real, onde tudo acontece, o tempo das realizações. Há também o desenrolar, a passagem que traz mudanças, tão constantes quanto o próprio tempo. Para nos adaptarmos, para acompanharmos o tempo, avaliamos, buscamos outros jeitos de ser e estar no…. Tempo. E é aí que entra o Sensível e a Poesia que nos fazem escapar às engrenagens mecânicas das realizações, das avaliações, do correr atrás do tempo para adentrarmos nele pelos seus portais mágicos que nos transportam para uma configuração contemporânea e sincrônica. E esta é a importância desse Ciclo de Conversas: ele nos traz, pelo sensível e a poesia, ao tempo da reflexão, quando olhamos para trás e para o que virá. Assim de forma mais fluida olhamos e participamos da construção do futuro.”, assinala.
As duas sessões do Ciclo Poéticas do Tempo Presente encerram uma programação de mês de aniversário de 10 anos da Porto Iracema das Artes, que estendeu por todo o mês de agosto e trouxe exposições, apresentações musicais, teatrais e de dança, além de aulas abertas e oficinas diversas. As atividades reuniram artistas e estudantes que passaram ou estão em processo de formação na Porto Iracema das Artes e reafirmaram o compromisso da Escola com a arte, a diversidade, os múltiplos saberes e sobretudo com a democracia. Durante todo ano de 2023, o Ciclo Poéticas do Tempo Presente continua com novas sessões de debates.
Inaugurada em 29 de agosto de 2013, a Porto Iracema das Artes vem desenvolvendo, ao longo de dez anos, experiências formativas que impactaram fortemente o campo cultural do país e do Ceará. Com cerca de 16 mil matrículas ofertadas na década, a Escola atualmente alcança artistas de Fortaleza e do interior do estado. A Escola oferece o Programa de Formação Básica em Artes (em Artes Cênicas, Audiovisual e Artes Visuais), os Laboratórios de Criação (em Artes Visuais, Dança, Cinema, Música e Teatro) e o Curso Técnico em Dança. Desde 2022, a Escola desenvolve o projeto aBarca, que alcança jovens artistas iniciantes em Fortaleza (nos bairros Vicente Pinzón, Curió, Genibaú e Granja Portugal) e em outros nove municípios do estado: Caucaia, Maranguape, Maracanaú, Itapipoca, Sobral, Quixadá, Iguatu, Crato e Juazeiro do Norte.
Desde sua fundação, a Porto funciona como um espaço voltado para trocas e experiências culturais, fomentando o debate crítico em encontros marcantes com intelectuais e artistas como Karim Ainouz, Maria Helena Bernardes, Grace Passô, Marcia Tiburi, Russo Passapusso, Renato Noguera, Nêgo Bispo, Efe Godoy, entre outras e outros.
SOBRE LUIZ RUFINO
Um dos mais reconhecidos estudiosos sobre a diáspora africana e a crítica ao colonialismo, Luiz Rufino possui pós-doutorado em Relações étnicos-raciais (Cefet/PPRER) e é professor da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Possui várias publicações de livros, artigos em revistas e jornais que abordam as culturas populares, os diferentes modos de educação, diáspora africana e crítica ao colonialismo.
Recentemente lançou o livro: “Ponta—cabeça: educação, jogo de corpo e outras mandingas” pela editora Mórula, em que a prática da capoeiragem em seu fundamento de virar de ponta-cabeça pode ser encarada como uma outra forma de educação.
Luiz é carioca, filho de pai e mãe cearenses e tem nas rodas, ruas, quintais e terreiros suas principais fontes de interlocução com o saber.
Após o debate, haverá uma sessão de autógrafos do livro “Ponta—cabeça: educação, jogo de corpo e outras mandingas”.
SOBRE FABIANO PIÚBA
Secretário de Formação, Livro e Leitura do MinC, Fabiano Piúba é doutor em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC). Professor, escritor, historiador e gestor cultural, Fabiano Piúba foi secretário de Cultura do Estado Ceará, de 2016 a 2022; Presidente do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura, entre 2017e 2018. No MinC ocupou o cargo de Diretor de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (2009-2011 e 2014), além de coordenador-geral de Articulação Federativa do programa Mais Cultura (2008). Entre 2012 e 2013 esteve como diretor de Leitura, Escrita e Bibliotecas do CERLAC-UNESCO, organismo internacional ibero-americano com sede em Bogotá, na Colômbia.
SOBRE NINA RIZZI
Escritora, tradutora, pesquisadora, professora e curadora de eventos. Autora de livros como tambores pra n’zinga, sereia no copo d’água, caderno-goiabada e os infantis A melhor mãe do mundo e Elza: a voz do milênio. Formada em História pela Unesp e Mestra em Literatura Comparada pela UFC, traduziu, entre outras obras, livros de Alejandra Pizarnik, Susana Thénon, bell hooks, Alice Walker, Nikki Giovanni, Toni Cade Bambara, Gayl Jones, Ijeoma Oluo e Abi Daré.
SOBRE MARIA MARIGHELLA
Presidenta da Fundação Nacional das Artes (FUNARTE), mãe, atriz, feminista antirracista e gestora cultural. Foi vereadora de Salvador pelo Partido dos Trabalhadores. Sua candidatura foi fundada junto à ManifestA ColetivA, movimentação cidadã de ocupação da política institucional que defende “uma outra cultura política em Salvador”. Filiou-se ao PT em fevereiro de 2020, após uma longa trajetória em governos petistas, nos âmbitos federal e estadual, como gestora de políticas públicas para a cultura. Foi coordenadora de Teatro da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) e da Fundação Nacional de Artes (Funarte), além de diretora de Espaços Culturais da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA). Tem a defesa dos Direitos Humanos e a luta por Memória, Verdade e Justiça como princípios inegociáveis da sua vida. Maria Marighella é neta de Carlos Marighella.
SOBRE MÁRIO MAGALHÃES
Um dos mais importantes biógrafos do país, Mário Magalhães é autor da biografia “Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo”, editada pela Companhia das Letras. O livro está na 11ª reimpressão e ganhou seis prêmios: Prêmio Jabuti, Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), Prêmio Casa de las Américas, Prêmio Brasília de Literatura, Prêmio Botequim Cultural e Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo.
“Marighella foi adaptado para o cinema, com direção de Wagner Moura, produção da O2 Filmes e co-produção da Globo Filmes. O filme constituiu-se num dos casos mais violentos de censura do Governo Jair Bolsonaro, o que impôs sucessivos adiamentos de seu lançamento. Atualmente, Mário Magalhães trabalha na biografia de Carlos Lacerda.
No exercício do Jornalismo, Mário Magalhães já trabalhou nos mais importantes jornais do país, como “Tribuna da Imprensa”, “O Globo”, “O Estado de S. Paulo” e “Folha de S. Paulo”, diário do qual foi repórter especial, colunista e ombudsman. Manteve um blog no portal UOL e uma coluna no site The Intercept Brasil. Recebeu 25 prêmios jornalísticos e literários no Brasil e no exterior, incluindo menções honrosas. Entre eles, Every Human Has Rights Media Awards, Lorenzo Natali Prize, Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos e Anistia, Grande Prêmio Esso de Jornalismo, Prêmio Folha de Reportagem, Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, Prêmio Dom Hélder Câmara de Imprensa (oferecido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Prêmio Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho), Medalha Chico Mendes de Direitos Humanos, Prêmio AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) e Prêmio da Associação Interamericana de Imprensa.
SOBRE LUISA CELA
Luisa Cela é cearense, formada em psicologia, com mestrado em Saúde da Família, ambas pela Universidade Federal do Ceará (UFC), e especialização em Arteterapia (Instituto Aquila). Desde 2014, tem atuação no campo das políticas culturais, direitos humanos e cidadania. Exerceu a função de Diretora de Direitos Humanos na Rede CUCA – Fortaleza, e no Instituto Dragão do Mar (IDM), assumiu a Diretoria de Cidadania Cultural, dirigindo o Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ) e coordenando projetos importantes como o “Praça das Artes”. Assumiu também a presidência do Instituto ECOA (Escola de Comunicação, Cultura, Ofícios e Artes) – Sobral. Entre os anos de 2019 a 2022, exerceu o cargo de Secretária Executiva da Cultura no Governo do Estado do Ceará, assumindo ao longo desse período, a Coordenação da Lei Aldir Blanc no Ceará. Também fez parte da equipe do Consórcio Nordeste. Atualmente, é secretária da Cultura do Estado do Ceará (Secult Ceará).
SOBRE O CICLO POÉTICAS DO TEMPO PRESENTE
O nome do CICLO POÉTICAS DO TEMPO PRESENTE é homônimo ao operador poético de 2023 da escola. O operador poético do Porto Iracema das Artes é definido anualmente, com base nas interpelações indicadas pelo ano letivo imediatamente anterior. Em 2016, o operador que orientou as ações formativas da Porto Iracema foi “Narrativas”; em 2017, foi a vez das “Utopias”; em 2018, destacamos as “Poéticas do Feminino”; no ano seguinte, 2019, vivenciamos as “Poéticas da Existência”; e, em 2020, refletimos sobre as “Poéticas de Coexistência”. Já em 2021, trouxemos as “Poéticas de Travessia”. Em 2022 nos debruçamos sobre as “Poéticas Afroindígenas”.
A IDEIA DO TEMPO: tempo é uma inquietação humana, pois nos confronta com questões radicais do viver como limite, finitude, eternidade, ancestralidade e posteridade. Apesar de estarmos conectados ao tempo em perspectiva cronológica, nossa ancestralidade indígena e afrodiaspórica nos conecta com outras estruturas temporais. Entendendo o presente como o atravessamento de múltiplas temporalidades, tomamos o tempo como processo e fazer artístico, numa conexão radical com o contexto social.
Sobre a Escola
A Porto Iracema das Artes é a escola de formação e criação em artes do Governo do Estado do Ceará, ligada à Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, sob gestão do Instituto Dragão do Mar (IDM). Criada em 29 de agosto de 2013, há dez anos desenvolve processos formativos nas áreas de Música, Dança, Artes Visuais, Cinema e Teatro, com a oferta de Cursos Básicos e Técnicos, além de Laboratórios de Criação. Todas as ações oferecidas são gratuitas.
SERVIÇO
O quê: Maria Marighella, Fabiano Piúba, Mário Magalhães e Luiz Rufino participam do “Ciclo Poéticas do Tempo Presente”, evento em comemoração aos 10 anos da Porto Iracema das Artes
Quando: 29 e 31 de agosto, às 19h
Onde: Escola Porto Iracema das Artes (Rua Dragão do Mar, 160 – Praia de Iracema)
Gratuito e aberto ao público