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Escola de Formação e Criação do Ceará

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Cursos de formação básica em artes, promovidos pelo Abarca, levam novas oportunidades para jovens na comunidade da Taíba, em São Gonçalo do Amarante

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(Foto: Micaela Menezes)

Formações contemplam mais de 45 jovens moradores da Taíba

Os ventos de São Gonçalo do Amarante, na região metropolitana de Fortaleza, atraem visitantes focados no mar e nas ondas de praias como a da Taíba. Mas, outras rajadas carregadas de arte e novas possibilidades chegaram à região no dia 21 de outubro. Na data, o município, localizado à cerca de 65 km da capital cearense, recebeu o projeto aBarca – Formação em Artes para as Juventudes promovido pela Porto Iracema das Artes – Escola de Formação e Criação do Ceará, que integra a Rede Pública de Equipamentos da Secretaria de Cultura do Estado (Rece) e é gerida em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM).

Quando o audiovisual, o teatro e as artes visuais chegam à Taíba por meio do aBarca, é como abrir novos horizontes, mesmo em uma comunidade já acostumada com a imensidão de um mar azul. “Esse é o meu sonho, faz parte de mim”, destaca Rebekah Osterholt, agora estudante do curso de Audiovisual. “Eu quero muito me aprimorar nisso, aprender, porque eu pretendo seguir profissionalmente na área”, complementa.

Criado em 2013, o programa realiza cursos gratuitos de formação artística básica em diferentes municípios do interior do Ceará. O objetivo do projeto é democratizar o acesso a conhecimentos e atividades ligadas ao universo cultural em localidades distantes dos grandes centros, onde essas ações acontecem com pouca frequência. 

“Vou ser bem sincera, aqui é um ‘pouco esquecido’”, observa Rebekah. A região nem sempre oferta atividades culturais diversificadas para quem ali mora, bem como não há tantas oportunidades para aproximar os moradores do universo artístico, ainda que a arte seja um direito e um desejo dos gonçalenses. “Mesmo tendo pessoas que gostam de arte, raramente tem algo sobre, você só encontra em lugares mais distantes. Então, é extremamente importante ter essa oportunidade de conhecer e aprender sobre arte”, reforça a estudante.

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(Foto: Micaela Menezes)

Interessada em seguir carreira no audiovisual, Rebekah Osterholt ficou empolgada com a chegada do curso voltado para a área

Um mar de aprendizados

Para mudar essa realidade, o aBarca realiza, até o dia 29 de novembro, três cursos de diferentes campos artísticos. As formações são ministradas para mais de 45 jovens, com idades entre 15 e 29 anos, selecionados por meio de busca ativa. Realizadas nos turnos da tarde e da noite, as aulas ocorrem no Conselho Comunitário da Taíba (CCT).

Durante a tarde, o espaço de reuniões do centro comunitário se transforma em um grande ateliê, tomado pela turma de Artes Visuais. Com foco em fotografia, a formação ensina técnicas para fotografar utilizando diferentes dispositivos, ao mesmo tempo em que apresenta algumas abordagens e formas de atuação nesse campo, como fotografia litorânea e esportiva. 

O responsável por introduzir o assunto é Thiago Braga. Mestre em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e professor de fotografia na rede Cuca e na Casa Amarela Eusélio de Queiroz, o especialista foi convidado para ministrar o primeiro módulo do curso “Navegações Estéticas: Fotografia em territórios litorâneos”.

“A ideia é que o módulo explore muito a construção do olhar, mas também conceitos técnicos da câmera. Então, vai ter todo um alicerce técnico e estético, para [que os estudantes possam] entender como esses elementos podem ser trabalhados em prol do que a imagem”, relata o fotógrafo.

Além de Braga, os estudantes também trabalharão os módulos “O Olhar Fotográfico e seus dispositivos”, com Gandhi Guimarães, “Linguagem fotográfica entre Corpos e Maresia”, com Roberta Martins, “Ensaio, Fotografia Esportiva e Fotojornalismo”, com Analice Diniz e, por fim, “Preamar: Ensaio, Território e Projeção”, com Carliane.

Quando o sol se põe no mar da Taíba, é hora do Teatro tomar conta do Conselho Comunitário. O curso vai além da interpretação, aprofundando conhecimentos sobre a produção por trás das cortinas ao mostrar, para os estudantes, o desenvolvimento de textos e caracterizações.

No caso da formação teatral, a dupla à frente do primeiro módulo, intitulado “Navegações Estéticas: Identidades da Memória”, é formada pelos artistas Vittor Blam e Murilo Franco. “A gente trouxe muito exercício, muito jogo, muitas brincadeiras, trabalho vocal, corporal, que vai fazer uma introdução para galera aqui do curso, para [a turma] conhecer um pouquinho do que é a base do teatro”, explica Blam.

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(Foto: Micaela Menezes)

Curso de teatro utiliza exercícios para introduzir estudantes no campo artístico

Membros do Coletivo Alfenim, grupo paraibano que valoriza a construção coletiva na arte, os atores explicam que, ao desenvolver as atividades da formação, pensaram em ações que os ajudassem a compreender a cultura e a realidade local, entendendo que esses fatores influenciam na individualidade da turma.

“O curso foi pensado para isso, para compartilhar essa nossa experiência e conhecer essa juventude daqui de Taíba. E isso [o curso] é tudo muito mutável, porque a gente sabe que cada grupo é único”, conta Murilo.

Além do módulo ministrado pela dupla da Paraíba, a formação básica em teatro inclui os módulos “Narrativas da Memória” e “Corpo, texto e interpretação”, ministrados por Georgina Castro e Goldem Berg, respectivamente. Os alunos também aprenderão sobre “Figurino e Maquiagem como Elementos Cênicos”, com Amon Aristides, e planejarão uma apresentação final a partir de conhecimentos adquiridos no módulo “Preamar: Encenando Memórias”, com Lídia dos Anjos.

Memória como farol

Os novos caminhos artísticos são, também, uma forma de contar a própria história ou, ainda, criar uma nova. Com isso, preservam-se trajetórias, saberes e biografias para que não se percam na ausência do registro, valorizando aspectos como identidade e memória.

“A ideia é fazer com que eles encontrem uma história para contar e, então, [mostrar] o que fazer com essa história. É muito relevante ter essa relação com as histórias que permeiam o lugar, porque elas merecem ser preservadas. Principalmente quando são sobre lugares que são ‘descentralizados’’, reforça a diretore e roteiriste Wara, responsável pelo percurso  “Navegações Estéticas: Embarcando na história” em audiovisual.

Inscrito no curso, o jovem Daniel Ramiro da Silva já sabe qual história quer contar: “Eu tenho a vontade de, um dia, fazer um documentário com as pessoas mais velhas da comunidade, porque eu sou filho de nativos, nasci e fui criado aqui, então tenho esse pensamento [de preservar a história local]”.

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Ramiro planeja utilizar os ensinamentos das aulas de audiovisual para produzir um documentário sobre a comunidade

Após a definição dos enredos, a formação trabalhará desde a elaboração de roteiros até a edição final do material produzido. Durante o desenvolvimento das ideias propostas, os alunos poderão contar com a cineasta Janaína Marques, o músico Henrique Gomes e a artista visual Priscila Smiths, que ministrarão, respectivamente, os módulos “Roteiro – A âncora da trama”, “Som – Os tons entre o marulho e a brisa” e “Câmera – Pescando imagens”.

Via Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), as ações do aBarca em São Gonçalo do Amarante contam com Patrocínio da Nubank.

Novas rotas para o futuro

Ao final do curso, a expectativa é que os jovens levem os conteúdos ministrados para além dos muros do centro comunitário, passando a enxergar o que aprenderam como novas oportunidades para o futuro.

Os estudantes de teatro, por exemplo, terão bagagem suficiente para dar início a jornadas profissionais em diferentes setores da indústria artística, podendo aventurar-se no próprio universo de espetáculos teatrais, atuando nas coxias ou nos palcos, ou, até mesmo, adaptar as habilidades aprendidas para explorar o mundo televisivo e cinematográfico.

“O teatro é a base para várias áreas, como cinema e TV. Então, tudo que a gente está trazendo aqui vai servir, para que, se eles quiserem dar um pontapé na carreira dentro do teatro ou cinema, estejam bem encaminhados”, enfatiza o professor Vittor Blam.

No caso dos estudantes que já trabalham ou já trilham carreiras em outras áreas, os conhecimentos ainda podem ser aproveitados em atividades alternativas, como forma de  complementar a renda, explica Thiago Braga.

“Esses conhecimentos vão servir para quem tem interesse em trabalhar com fotografia para fins pessoais e também para quem tem interesse em trabalhar profissionalmente. [Porque] mesmo para a fotografia social ou para a cobertura de eventos, os conteúdos [do curso] ainda são alicerces muito pertinentes para executar um trabalho de maneira satisfatória”, afirma o fotógrafo.

Presidente do Conselho Comunitário da Taíba (CCT), Edneide da Silva é uma das moradoras empolgadas com os cursos. Ela acredita que o projeto pode transformar a realidade da juventude e movimentar a economia local.

Esses cursos são inéditos no CCT e são muito importantes para os filhos de pescadores, para as pessoas da comunidade, porque muitos vão conseguir emprego. Por exemplo, o estudante de teatro pode montar uma peça, que é algo que vai atrair turistas, e isso pode levar gente para nossa lojinha de artesanato. Então, ajuda o comércio local e toda a comunidade, argumenta Edneide.

Onda que banha toda a comunidade

O projeto de formação artística também promove mudanças nos hábitos da juventude da Taíba. Antes dispersos no período da tarde e da noite, os jovens abrem mão das horas ociosas em casa para aproveitar momentos de troca de experiências e aprendizados.

A socialização, para a jovem Saíra Bento, é uma das melhores novidades trazidas pelo programa. Segundo a jovem, que frequenta as aulas de Teatro, o curso permite que ela e os colegas deixem o celular de lado para se conhecer melhor.

“Hoje em dia, tudo é internet, tudo é tecnologia. Todo mundo só quer saber de estar no celular ou na frente da televisão e, assim, não dá. O curso é bom porque a gente conversa, conhece várias pessoas, eu mesma já fiz vários amigos aqui [nas aulas]”, conta a aluna.

As novas interações acabam impactando toda a comunidade, já que, ao formarem laços, os mais novos fortalecem o senso de coletividade na região, o que ajuda na preservação de aspectos importantes, como a identificação e a memória local.

É um impacto que vai para além da sala de aula. No finalzinho das aulas, a gente sempre tem notícias: ‘olha, foi fundado um coletivo ali’. […] Ter um curso que potencializa essa identidade, reafirma também esse jovem nesse território, desperta, nele, a vontade de construir dentro do seu território, explica a coordenadora Maíra Rocha.

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(Foto: Micaela Menezes)

Interações durante as formações fortalecem os laços entre a comunidade

Outros desembarques no Estado

Além da comunidade da Taíba, o projeto aBarca também impacta populações de outros municípios do Ceará, realizando ações do litoral ao interior do Estado.

Na região metropolitana, onde está localizada a cidade de São Gonçalo do Amarante, o projeto já atuou em Caucaia, Maranguape e Maracanaú, além dos bairros Vicente Pizón e Curió, localizados na zona periférica de Fortaleza.

Já no interior, as atividades já contemplaram os municípios de Itapipoca, Sobral, Quixadá, Iguatu, Crato e Juazeiro do Norte. A previsão é que, ao longo das próximas edições, o projeto aumente ainda mais, chegando em outras localidades cearenses.

 

Assessoria de Comunicação Porto Iracema das Artes | Texto: Isabella Rifane | Supervisão e Edição: Gabriela Dourado (jornalista) | Publicado em 31 de outubro de 2024