Rodrigo Luna e Pedro Perazzo são os autores do roteiro “O enterro da Neide”, projeto da Bahia selecionado na Residência Nordeste da atual edição do Laboratório de Audiovisual/Cinema. O projeto conta a história do personagem Gil, que após a morte de Neide, empregada doméstica que trabalhou durante 30 anos para a sua família, resolve levar o seu corpo para ser enterrado no lugar onde ela nasceu, na região de Rio de Contas, interior da Bahia. No local, Gil descobre muito mais do que imaginava. Os participantes do Lab de Audiovisual responderam algumas perguntas sobre o atual trabalho e expectativas sobre o projeto.
Porto Iracema – Como surgiu o interesse de vocês pelo cinema/audiovisual?
Pedro – Desde criança cinema já era uma coisa presente na vida, de ir na locadora e alugar filmes toda semana, ir ao cinema. Na adolescência havia o hobby de fazer filmes com os amigos, em VHS. Depois o hobby virou faculdade e profissão.
Rodrigo – Assim como o Pedro, meu interesse por cinema sempre esteve presente na minha vida, mas só comecei a entender que podia ser mais que um hobby quando entrei na faculdade. Comecei a trabalhar com audiovisual desde o primeiro semestre e sempre que eu podia dava prioridade a projetos de cinema, atuando nas diversas áreas, mas sempre focando em me tornar diretor.
PI – Como vocês tomaram conhecimento do Lab Audiovisual? Apesar da distância geográfica, por que vocês tiveram interesse em participar da seleção?
Pedro – Soubemos do laboratório pela internet, há alguns anos. A vontade de participar, mesmo morando longe, surge devido à proposta muito interessante do Laboratório e do trio de consultores que são grandes referências pra gente no cinema.
Rodrigo – O próprio Porto Iracema das Artes, é muito estimulante essa idéia de uma instituição abrigar diversas linguagens artísticas e, acima de tudo, promover o encontro entre elas. É um pensamento que é muito interessante pra gente, e com certeza queremos aproveitar ao máximo esse ambiente multidisciplinar.
PI – Como nasceu o projeto “O enterro de Neide” ? Qual problemática ele aborda ?
Rodrigo – O Enterro de Neide nasceu de uma linha de história que Rodrigo tinha, de um jovem que deveria levar o corpo da mulher que trabalhava em sua casa durante toda sua vida para ser enterrado no lugar onde ela nasceu. A partir daí, tentamos desenvolver a história dessa jornada que acabaria sendo de autoconhecimento. Mas, financiados pelo Fundo de Cultura da Bahia, conseguimos passar 1 mês morando em Rio de Contas, a cidade onde a personagem falecida teria nascido.
Pedro – Essa pesquisa nos abriu para muitas possibilidades dentro da história, e nos fez mudar e aprofundar muito o argumento que tínhamos. O projeto cresceu em profundidade. Hoje, nossa ideia é problematizar a questão da opressão racial e de classe. Tratar da perpetuação dessa opressão, que muda seus meios, mas permanece, geração após geração, tendo os mesmos opressores e os mesmos oprimidos.
PI – Quais as expectativas que vocês tem quanto à essa experiência no Porto Iracema?
Pedro – A expectativa que temos é de ver nosso projeto ser muito criticado e, por isso, aperfeiçoado. Confiamos muito nos três consultores e também acreditamos muito nessa ideia de Laboratório, de que vários olhares dedicados ao projeto podem revelar muita coisa sobre ele, ajudando a potencializá-lo.
Rodrigo – A oportunidade de ter um projeto esmiuçado pelos tutores já seria por si só inestimável. Além disso, até agora encontramos um ambiente bastante propício para troca não só com os outros participantes do laboratório mas com nossas coordenadoras, que são de uma eficiência afetuosa sem igual.
PI – Que caminhos vocês desejam trilhar após a passagem pelo Laboratório?
Pedro – Cada um de nós segue carreiras em paralelo no mercado de cinema, eu mais como roteirista, Luna mais como diretor. Em paralelo, desenvolvemos alguns projetos em parceria. A ideia é que, uma vez concluído o roteiro de O Enterro de Neide, a gente consiga viabilizar a produção do filme junto às produtoras parceiras que, desde o início, já apostam junto com a gente neste projeto.