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Escola de Formação e Criação do Ceará

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BRAVO! ALBERTO NEPOMUCENO!

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Alberto Nepomuceno (1864-1920)

No ano em que se completa o centenário de morte do maestro Alberto Nepomuceno (1864-1920), a Escola Porto Iracema das Artes se junta à Universidade Estadual do Ceará (Uece) para promover o “Ano Alberto Nepomuceno”, uma programação especialmente dedicada a revisitar e divulgar o legado deste cearense fundamental para a criação de uma música orquestral brasileira.

De agosto a dezembro de 2020, mensalmente, serão realizadas videconferências no III SIRIM – Simpósio de Regência e Interpretação Musical, que nesta edição tem como tema “Alberto Nepomuceno em foco”, e será transmitido pelo Youtube e o Facebook da Escola. Toda a programação, que será divulgada em breve, tem a curadoria de uma comissão formada pelos músicos e pesquisadores Elba Braga Ramalho, Gilmar de Carvalho, Inez Martins Gonçalves, Anna Maria Kieffer e Marcio Landi.  O evento conta, ainda, com a parceria da Universidade Federal do Ceará (UFC), do Curso de Música da Uece e do Grupo de Pesquisa IRIM.

Hoje, 6 de julho, Nepomuceno faria aniversário e, para darmos início às comemorações, o professor e pesquisador Gilmar de Carvalho nos presenteia com um texto sobre o grande artista da música erudita. Confira!

BRAVO! ALBERTO NEPOMUCENO!

Alberto Nepomuceno (Fortaleza, 1864 / Rio de Janeiro, 1920) nos fazia sentir orgulho da geração de cearenses que se destacou, nacionalmente, no século XIX, da qual faziam parte Alencar, Beviláqua, Araripe Junior, Capistrano. Não era fácil comprar os discos com as composições do Maestro. O rádio não o tocava, nem no dia de Finados, quando a programação era de música erudita.

Ele foi muito além do ufanismo bairrista, e se afirmara como um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos, ao lado de Carlos Gomes e Villa Lobos.

Travei contato com a vida e o legado dele, na segunda metade dos anos 1990, quando o amigo João Silvério Trevisan escreveu o romance “Ana em Veneza”.

Nesse mesmo contexto, a amiga cantora e musicóloga Anna Maria Kieffer preparava o disco com as canções em português do Nepo, como ela o chama, carinhosamente.

O Maestro Victor Nepomuceno, organista da Sé de Fortaleza, se mudou para o Recife, com a família, quando Alberto tinha oito anos.

Voltaram ao Ceará, em 1874, para o concerto cuja renda se destinava ao rabequista Francilino Pessoa, dia 5 de setembro, no Club Cearense, regido pelo maestro Victor, onde o menino, aos dez anos, tocou ao piano com Emília, o “Morceau de Salon”, conforme anúncio do jornal “Constituição”.

Na capital de Pernambuco, depois da morte do pai, Nepomuceno trabalhou em tipografias. Há um consenso de que tipógrafos são uma categoria bem informada e politicamente avançada.

Aos vinte anos, regeu o “Concerto da Abolição”, na Assembleia Provincial, onde hoje funciona o Museu do Ceará. Este concerto não consta do Catálogo organizado pelo neto Sérgio Nepomuceno Alvim, e marcou sua estreia na regência.

Do programa deste “Concerto” faziam parte peças que não traziam os nomes dos autores, de acordo com o programa publicado pelo jornal “O Libertador”, que poderiam ter sido suas primeiras composições.

Voltou, em 1888, para apresentar o “Batuque”, abolicionista que era.

Depois, veio o complicador de ter perdido a bolsa de estudos na Europa, por ser republicano. Sua viagem, com apoio da família Bernardelli, deveu muito aos concertos feitos por ele para arrecadar dinheiro.

Estudou com grandes mestres, e voltou para o Rio de Janeiro, onde consolidou sua carreira.

Na entrevista à revista “A Época Teatral” (1917), chamava a atenção para os “vocalises”nos aboiados- “cantos tristes que os vaqueiros entoam à frente do gado para reuni-lo, guiá-lo, e pacificá-lo”- que lembravam o cantochão gregoriano.

Pode ter acompanhado cantorias, como as citadas por seu tio Oliveira Paiva, em “Dona Guidinha do Poço”, escrito no século XIX, publicado em 1952. Ou ter-se divertido com a dança do coco, citada por Juvenal Galeno nas “Lendas e Canções Populares”, de 1865.

Difícil não ter se emocionado com a batida dos maracatus e dos congos que desfilavam pelas ruas de Fortaleza.
Maduro, fez uma “fusão” do Brasil com o que estudou na Europa.

O diálogo dele com a tradição deve ter se consolidado na temporada em Recife, onde o ancestral sempre se plugou ao contemporâneo.

Pernambuco era província conflagrada. Foi assim em 1817; com a Confederação do Equador, em 1824; e com a Praieira, em 1848.

A Faculdade de Direito, onde ele não estudou, era um local de difusão de novas ideias, marcadas pela Filosofia.

As canções em língua portuguesa eram uma atitude corajosa e coerente diante do cânon. Ele musicou poemas de expressões da literatura brasileira, como Machado de Assis, Olavo Bilac, Coelho Neto. A última peça do Maestro foi a canção “A Jangada”, pouco antes de sua morte, a partir de um poema de Juvenal Galeno, “inventor” da poesia com raízes populares.

No centenário de sua morte, o Ceará grita em uníssono: Bravo! Nepomuceno!.

 

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Gilmar de Carvalho é Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo. Jornalista. Professor aposentado da UFC. Estuda as relações da Comunicação com as culturas.

 

 

 

 

 

Assessoria de Comunicação | Porto Iracema das Artes

Publicado em 06/07/2020