Escola de Formação e Criação do Ceará

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Apresentando 6 roteiros de longa-metragem e 1 série infantojuvenil, Laboratório de Cinema da Porto Iracema celebra realização do 11º Pitching de Roteiros

Fotos Micaela Menezes 183

Neste último sábado, 9, o Cinema do Dragão recebeu o 11º Pitching de Roteiros do Lab Cena 15, em evento que contou com mais de 20 convidados entre artistas, jornalistas, produtores de audiovisual

Realizado no Cinema do Dragão neste último sábado, 9, o 11º Pitching de Roteiros promovido pelo Lab Cena 15 da Escola Porto Iracema das Artes – equipamento da Rede de Rede Pública de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará), gerido pelo Instituto Dragão do Mar (IDM) – celebrou a apresentação dos 6 roteiros de longa-metragem e 1 série infantojuvenil desenvolvidos pelos integrantes da atual edição.

Apresentado por Gabriela Dourado, jornalista e coordenadora de comunicação da Escola, e Manoela Ziggiatti, coordenadora do Lab Cena 15, o evento contou com uma fala pública do atual curador do Cinema do Dragão, Fábio Rodrigues, que realçou a parceria entre os equipamentos culturais, destacando a exibição de alguns filmes que “nasceram” em edições anteriores do Pitching.

Karim Aïnouz, mentor do projeto, fez uma participação especial via gravação para parabenizar a realização do evento, comentando sua saudade de estar ali e desejando vida longa ao Lab Cena 15. Em seguida, Bete Jaguaribe, Diretora da Escola, discursou sobre a importância do Pitching: “Repetimos mais uma vez o encontro que realizamos anualmente há mais de uma década. A apresentação de novas histórias que vão para o mundo até chegar às telas de cinema. Onze edições. Um tempo largo. Uma excepcionalidade na tradição das políticas culturais do Brasil. Os números são impressionantes, não há dúvida”.

Tutores e consultores do Laboratório de Cinema foram chamados ao palco. Armando Praça, Nina Kopko, Murilo Hauser, Pablo Arellano, Luciana Vieira e Camila Augustini foram contemplados com uma fala da tutora Jaqueline Souza sobre como o Pitching, apesar da formalidade, também é uma celebração aos roteiristas participantes e de como a existência do Laboratório de forma pública, contínua e única no cenário do audiovisual brasileiro, só ocorre graças a esse trabalho de diferentes sujeitos em esferas distintas.

Para compor o júri desta edição, a Escola recebeu Alice Carvalho, atriz, diretora e roteirista, cuja carreira ganhou notoriedade após interpretar Dinorah Vaqueiro na série da Amazon Prime Video, “Cangaço Novo”, com segunda temporada confirmada. Atualmente, Alice dá vida à personagem Joaninha, no remake da novela da Globo “Renascer”; Ana Paula Sousa, jornalista e editora de cultura da revista CartaCapital; Caroline Louise, produtora cearense do grupo Marrevolto; Leo Garcia, roteirista e diretor-geral do FRAPA, maior festival de roteiros do país; Tereza Gonzalez, produtora e Vice-Presidente de Conteúdo na Paramount Television International Studio e ex-CEO da empresa Porta dos Fundos / Viacom; Monique Rocco, produtora executiva da produtora Maria Farinha Filmes; e Gabriela Azevedo, representante da área de aquisição e projetos do Canal Brasil.

A apresentação se deu da seguinte forma. Primeiro, o roteirista apresentava a história do seu roteiro, assim como intenções e referências, em até 7 minutos. Depois, havia um espaço de até 15 minutos para responder às questões do júri e do público.

O primeiro roteiro apresentado foi o de Suçuarana, um drama de transmutação animal escrito por Karkará Tunga. A trama é sobre Josi, uma adolescente desconectada de suas raízes indígenas, enviada à zona rural após ser pega saindo escondida à noite. Para voltar, precisa convencer a avó a vender a terra da família aos fazendeiros, mas tudo muda quando Josi descobre ter uma herança diferente: a capacidade de transformar-se em suçuarana. Diante do júri, Karkará explicou que sua vontade de tirar o longa do papel vem justamente da falta de histórias contadas pelo ponto de vista indígena na cultura do audiovisual brasileiro.

O palco então foi tomado pela voz de Susnlly Marques, roteirista de AMA ao lado de Ray Freitas, que escolheu cantar parte da trama. O roteiro da dupla é sobre Jasmim, uma jovem negra que trabalha como babá para a família Abrantes enquanto cursa o Ensino Médio. Quando surge a oportunidade de uma bolsa de estudos para um cursinho, Jasmim se vê dividida entre o sonho de estudar História e as pressões para que ela siga os mesmos passos de sua mãe, que trabalhou a vida inteira como doméstica. Após a apresentação, Sunslly e Ray Freitas falaram de como essa história foi escrita a partir de vivências pessoais, e que mesmo tendo “Que Horas Ela Volta?” como principal referência, eles queriam criar algo diferente, contando uma trama que fala sobre a dura realidade brasileira de maneira lúdica e esperançosa.

O último roteiro a se apresentar antes do intervalo foi do trio Oziel Herbert, Larissa Estevam e Litelton Firmiano. Participantes do Cena 15 – Série de Ficção, eles apresentaram O Radar do Tempo com uma pequena encenação e distribuição de um folheto sobre como viajar no tempo. A série é sobre duas crianças negras que se aventuram no tempo em busca da avó que se perdeu no passado. Quase sempre em pé de guerra, os irmãos precisarão se unir para desvendar os segredos da Máquina do Tempo, enquanto contam com a ajuda dos seus ancestrais. O júri presente destacou a coragem do trio em criar uma série de ficção científica no Brasil, levantando questões sobre a produção e até sugerindo uma mistura de live-action e animação para tirá-la do papel. No momento de perguntas, o trio ressaltou que a vontade de fazer ficção científica é se apropriar de um gênero tipicamente branco e diversificá-lo trazendo questões como a negritude, ensinando ela de maneira apropriada para o público alvo que é o infantojuvenil.

Após o breve intervalo, o Pitching de Roteiros voltou com a apresentação de Couro Marcado da dupla Lucas Souto e Nick Sanches. Categorizado como uma “distopia fabril” o roteiro é sobre Matheus, que decide trabalhar em uma empresa têxtil que troca mão de obra por moradia. Ao se empenhar para subir de cargo, ele começa a desconfiar da procedência da matéria-prima usada na fabricação de uma linha exclusiva de tênis. Matheus então terá de decidir entre continuar com o conforto que conquistou ou alertar os colegas de trabalho para escaparem vivos dos segredos escondidos ali. Entre as questões levantadas pelo júri, veio sobre como eles imaginavam o futuro distópico do longa, no qual a dupla respondeu como sendo um futuro parecido com o do filme “Sorry to Bother You” de 2018.

Com muita emoção, Érica Sansil apresentou o roteiro de Rainhas do Baile, um filme sobre Duda, que descobre que o pai está prestes a sair da cadeia e voltará a morar na casa onde ela vive com sua avó. Para não conviver com o assassino de sua mãe, Duda vai fazer de tudo para vencer um concurso de funk e receber o prêmio em dinheiro que lhe permitirá se mudar dali. A roteirista comoveu o público com uma trama sobre uma menina órfã por um feminicídio, trazendo dados sobre uma questão social pouco trabalhada nas telas de cinema. Além disso, Érica apresentou um breve vídeo que mostra um pouco do universo visual que ela imaginou para o longa, que ressalta sua origem carioca e suas vivências em bailes funks.

A dupla seguinte, formada por Otávio Oliveira e Fernando Fiuza, apresentou o roteiro de Vermelho Escuro, um “drama gay neopentecostal”. A trama gira em torno de um pastor evangélico que se muda com a esposa para o interior do Ceará decidido a assumir o principal posto de trabalho em uma igreja neopentecostal. Na cidade, o religioso será confrontado por sua visão progressista da fé e pela paixão por um ex-criminoso. Assumindo a inspiração em Deserto Particular, de Aly Muritiba, os roteiristas descreveram o longa como um “Brokeback Mountain no sertão”, que atraiu questões do júri sobre a escrita dos personagens e como eles foram construídos de maneira a não serem estereotipados. Otávio e Fernando responderam falando sobre a pesquisa que fizeram para a escrita do roteiro, destacando os arcos de personagens que desafiam o que normalmente se espera deles no mundo real.

Por fim, Déo Cardoso e Vinicius Augusto Bozzo subiram ao palco para apresentar uma paródia do Globo Esporte em que introduzem o protagonista de Bolada, história sobre Chico Bill, um emocionado jogador de futebol da série C que recebe uma oportunidade inusitada na série A, mas que para realizar o sonho de ser titular num time de alto nível, terá que controlar sua falta de habilidade, suportar uma rotina regrada e superar o desafeto com um companheiro de time que lhe magoou no passado. Cheio de bom humor, a dupla explicou o universo que eles pretendem representar no longa, inspirado em obras como o filme “Maldito Futebol Clube” e a série “Ted Lasso”, destacando que o futebol ainda não foi explorado em filmes nacionais e que essa é a brecha que eles prentedem preencher.

Ao final do evento, Safo Nunes, analista de Comunicação e Gestão de Talentos representando o Projeto Paradiso, premiou o roteiro de “Bolada” com Prêmio BAL-LAB, que garante a participação dos criadores do roteiro no Festival de Biarritz na França, um espaço de encontro e cooperação entre produtores franceses e criadores latino-americanos. O restante dos prêmios foi anunciado na festa de encerramento do Lab Cena 15, que este ano ocorreu na Casa Absurda.

SOBRE O LAB CENA 15 – LABORATÓRIO DE CINEMA DA PORTO IRACEMA DAS ARTES

Fundado em 2013, o Laboratório CENA 15 – Cinema integra o programa de Formação dos Laboratórios de Criação da Porto Iracema, escola de artes da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), gerida em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM). O Lab Cena 15 promove, ao longo de 7 meses, a formação de roteiristas e desenvolve projetos de roteiros de longa-metragem de ficção por meio de um laboratório imersivo, sob a tutoria dos cineastas Nina Kopko, Armando Praça, Jaqueline Souza e Murilo Hauser, com a assessoria dos roteiristas Luciana Vieira e Pablo Arellano. Trata-se de uma experiência inédita de formação profissional e de lançamento exclusivo de novas histórias no circuito do cinema e audiovisual do Brasil inserida no Nordeste do país.

SOBRE O PROGRAMA CENA 15 – Série de Ficção

O CENA 15 – Série de Ficção dedica-se ao desenvolvimento da escrita dramatúrgica de obra seriada de ficção (live action), da ideia inicial à elaboração da bíblia e do roteiro do primeiro episódio. Seleciona um projeto por edição, para ser desenvolvido no período de 6 meses em dinâmica de uma sala de roteiro composta por três roteiristas cearenses, com orientação da roteirista e consultora Camila Agustini.

SOBRE A ESCOLA DE ARTES PORTO IRACEMA DAS ARTES

A Porto Iracema das Artes é a escola de formação e criação em artes do Governo do Estado do Ceará, instituição da Secretaria da Cultura (Secult) gerida em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM). Criada em 29 de agosto de 2013, há 10 anos desenvolve processos formativos nas áreas de Música, Dança, Artes Visuais, Cinema e Teatro, com a oferta de Cursos Básicos e Técnicos, além de Laboratórios de Criação. Todas as ações oferecidas são gratuitas.

Assessoria de Comunicação Porto Iracema das Artes | Texto: Arthur Albano (estagiário) | Supervisão e Edição: Gabriela Dourado (jornalista) | Publicado em 11 de março de 2024