O projeto “Luz Ator Ação” finaliza suas atividades no Laboratório de Pesquisa Teatral com o espetáculo “Caio e Léo”. O evento acontece no Estúdio de Audiovisual da Escola Porto Iracema das Artes no dia 1º de maio às 20h. A apresentação de “Caio e Léo” integra a programação que festeja os 15 anos do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.
Antes do período do Laboratório, os atores Ari Areia, Tavares Neto e Gabi Gomes já trabalhavam juntos no Outro Grupo de Teatro. Em entrevista, Ari explica o desenvolvimento de “Caio e Léo” durante os meses de imersão na pesquisa, que contou com a orientação de atores como Gilberto Gawronski, Luís Fernando Marques e Antônio Januzeli, o Janô.
O “Luz, ator, ação” une diferentes linguagens cenográficas no teatro. Como acontece essa relação?
Quando estávamos escrevendo o projeto, sabíamos que o “Luz, Ator, Ação” seria um espaço onde nós iríamos investigar formas de diálogo entre o teatro e o cinema, mas sobretudo que seria um laboratório de ator, por isso escolhemos Gilberto Gawronski como nosso tutor. O trabalho de ator que ele tem é fantástico. Tínhamos ideia de que esse diálogo entre as linguagens poderia ser feito através de mídias na cena, como projeções de foto e filmagens prévias ou feitas ao vivo, mas o que mais nos interessava era usar as referências dos efeitos dessas mídias na encenação, na interpretação ou no texto. Foi por esse caminho que seguimos.
Como foi o processo de amadurecimento dos atores e do texto em cena?
Essa investigação se deu em cima de uma dramaturgia já existente, o texto Caio e Léo, de Rafael Martins. A própria forma como foi escrito já dava, nas primeiras leituras que fizemos, uma impressão de proximidade com o audiovisual. No entanto, esse material foi escrito em 2002 e precisava ser atualizado em algumas questões para que tivesse mais força ao público de hoje. Enquanto iniciávamos esses laboratórios de improvisação para oferecer material à nova dramaturgia, recebemos a visita de Antônio Januzeli, o Janô (Escola de Artes Dramáticas – USP). Como não havia cena levantada, ele compartilhou intensivamente com a gente o seu processo, variações de energia, força, sensibilidade. Durante esses sete meses tivemos acompanhamento de duas pessoas que também foram fundamentais no trabalho de amadurecimento dos atores. Foram Andréia Pires e Danilo Pinho, que auxiliaram respetivamente na preparação física e vocal. Além disso, nas vindas mensais de Gawronski para tutoria, contávamos também com orientações que eram essenciais para essa construção como atores.
Além das aulas, o aprendizado dos atores também vem com a experiência das apresentações. Como é a relação de vocês com o público?
O público é fundamental nos processos de teatro, sair da sala de ensaio e mostrar o trabalho dá outra sensação, outra energia. A plateia aponta o que funciona, o que precisa melhorar, onde afinar mais. Nesse ponto, foi ótimo termos passado por dois momentos de abertura de processo dentro do Laboratório de Pesquisa Teatral, era algo que não pensaríamos se não fosse uma “exigência” do cronograma, e que acabou sendo muito benéfico para o processo.
Como a experiência com o laboratório ajudou na construção do projeto? O que vocês levarão como aprendizado?
O laboratório – que nós pensávamos inicialmente que seria mais para atores – foi também um momento bastante interessante para o trabalho de autor do Rafael, que foi reescrevendo toda a peça ao longo do processo, e até mesmo para o nosso diretor. Foi uma experiência de processo colaborativo, eram sempre muitas cabeças, muitas mãos, muitas informações novas chegando a todo momento. Isso às vezes confundia, mas quando confundia é que ficava mais interessante, quando a gente percebia que estava trilhando um caminho legal, mas que se arriscasse por outro ainda não pensado e não tão óbvio, ficaria ainda mais bacana. Nesse ponto foi interessante a figura do tutor, o Gilberto geralmente ajudava a gente a ter uma visão cautelosa sobre o que estávamos produzindo em sala de ensaio, acenava positivamente ou negativamente, ao passo que contribuía com o trabalho de ator, abria nossos olhos pra questões de produção, por exemplo. No meio do turbilhão de coisas que iam explodindo durante o processo, Gawronski dava uma sensação de que era assim mesmo, que estava dando certo. Quando não estava, ele era claro também. Muitas coisas grifadas por Gilberto durante o processo ainda estamos no caminho de conseguir como grupo, como artistas, mas essa relação com ele nos deu material que com certeza levaremos e aplicaremos nas próximas produções.
O segundo Workshop trouxe Luiz Fernando Marques, o Lubi (diretor do Grupo XIX – SP). Esse foi um dos momentos onde já havia algumas certezas sobre a peça nas nossas cabeças, mas o olhar externo do Lubi veio com apontamentos de caminhos possíveis além daquele. Nesse momento, tanto dramaturgia quanto encenação e trabalho de ator foram balançados e tomaram um caminho mais próximo daquilo que temos hoje.
A proposta inicial do projeto foi modificada durante esse tempo?
Durante o processo os questionamentos foram muitos, e eles tinham dois eixos centrais: o que queremos dizer com essa peça? E qual a maneira mais adequada a esse trabalho para falar sobre isto? Até chegar a algo próximo do que seja o ideal muitas coisas foram se transformando. Questionamentos sobre a forma também vieram. Inicialmente a concepção de encenação pensada por Yuri Yamamoto sugeria a utilização de um projetor de slides, daqueles antigos, por exemplo. Ele chegou a sugerir o uso de fotografias feitas na hora também pelos atores/personagens. Depois fomos descobrindo outras formas de usar a fotografia, sem cair no óbvio ou em saídas fáceis para o que não acontecesse no cena. Até descobrimos como fazer isso, mas por fim ficou tão intrínseca a presença da fotografia nos desenhos propostos na cena que isso se bastou. O contato forte com a atriz e bailarina Andréia Pires, durante o processo, por exemplo, também abriu caminhos para mudanças interessantes no texto e na encenação. Outras questões permaneceram e ficaram ainda mais sólidas, quando digo que nos questionamos a respeito do que queríamos dizer com a peça, é sobre os aprofundamentos que daríamos ao assunto. Desde o processo de elaboração do projeto, nossa ideia era usar o acontecimento amoroso entre esses dois rapazes, Caio e Léo, para falar sobre afetividade, sobre tempo. E é sobre isso que a peça fala. Temos certeza de que muita coisa vai continuar mudando e amadurecendo ao longo dos anos, até porque, se os deuses do teatro permitirem, teremos muito tempo de circulação com esse trabalho.
Confira fotos de ensaios do projeto “Luz, Ator, Ação” (Fonte: site do Outro Grupo de Teatro)
SERVIÇO
Espetáculo Caio e Léo
Quando: 1º de maio às 20h
Onde: Estúdio de Audiovisual da Escola Porto Iracema das Artes (Rua Dragão do Mar 160, Praia de Iracema)
Entrada Franca