Foto: Bruno Rodrigues
Uma das principais formações públicas em dança do Brasil atrai bailarinos de outros estados em busca da formação de referência na Porto Iracema das Artes
O Curso Técnico em Dança (CTD), da Escola Porto Iracema das Artes – Escola de Formação e Criação do Ceará, que integra a Rede Pública de Equipamentos da Secretaria de Cultura do Estado (Rece), gerida em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM) – completa, em 2025, 20 anos de atuação como uma das principais formações públicas em dança no Nordeste.
A iniciativa gratuita se tornou referência nacional por oferecer uma formação técnica, artística e política voltada à diversidade dos corpos e das expressões contemporâneas da dança.
A história do CTD se entrelaça com as trajetórias de artistas como Mabyh Almeida, do Piauí, e Mandu Ka’apor, do Maranhão, que atravessaram estados, fronteiras simbólicas e sociais para aprender mais no Ceará. Ambos são ex-alunes do curso e compartilharam o mesmo impulso de coragem de procurar novos caminhos a quilômetros de casa.
“A dança sempre esteve presente na minha vida, mas só aos 18 anos entendi que era um propósito. Foi aí que decidi sair do Piauí e buscar uma formação no Ceará”, relembra Mabyh, hoje professora, coreógrafa e produtora cultural.
Já Mandu comenta ter tomado conhecimento do CTD como referência em seu estado natal. “O Curso Técnico da Porto Iracema sempre foi muito comentado entre artistas da dança em São Luís, no Maranhão. Eu ouvia bastante sobre ele por meio de amigos e colegas que também buscavam caminhos de formação. Era uma referência para a gente, mesmo estando em outro estado”, comenta.
Corpos que dançam o território
Com carga horária de mais de 1.200 horas e disciplinas que vão de balé clássico e danças populares a dramaturgia, improvisação e história da arte, o CTD tem formado artistas com repertório técnico e crítico. Mas, para esses ex-alunos, a transformação vai além da grade curricular.
“Aprendi que técnica também é escuta, respeito e presença. A formação me ajudou a nomear o que eu já carregava no corpo: ancestralidade, desejo, cuidado com a coletividade”, diz Mandu, que hoje desenvolve uma pesquisa autoral em performance e espiritualidade afroindígena, além de circular com o espetáculo Trunqueiras, da Afiá Coletiva.
Já Mabyh destaca o acolhimento que recebeu e a forma como ressignificou sua relação com a dança: “Cheguei machucada por vivências anteriores, mas ali entendi que era possível ensinar com amor e firmeza. Aprendi que minha dança é cura, é caminho”, reflete.
Referência nascida do território
Para ambos, o CTD se consolidou como uma referência nacional justamente por reconhecer e respeitar as singularidades dos artistas nordestinos.
“É um curso gratuito, com uma estrutura maravilhosa, professores incríveis e uma escuta verdadeira das potências do território. Isso é de um valor imenso para quem, como eu, não queria sair do Nordeste para estudar arte”, ressalta a piauiense.
Mandu complementa: “O curso valoriza danças negras, indígenas e periféricas. Isso rompe com uma lógica colonizada sobre o que é ‘dança contemporânea’. Aqui, a gente dança com o tempo do território, com as encantarias, com a memória dos nossos.”
Transformação segue ecoando
Atualmente, Mabyh planeja abrir um espaço de dança voltado para mães no Piauí, enquanto Mandu segue atuando em projetos de arte-educação e performance no Ceará. Ambas reconhecem que suas carreiras foram impulsionadas pela formação no CTD.
“Foram muitos aprendizados! O CTD transformou a minha vida. Aprendi novas palavras, estilos de vida, danças, moveres… Muita informação nova! Mas, a maior lição foi acreditar no poder da minha dança. Acreditar que a dança cura. Que é possível, sim, através dela, chegar a lugares que nunca imaginei”, ressalta Mabyh.
“O curso técnico me deu chão, me deu asas e me fez perceber que existem vários caminhos possíveis para mim. Ele me ajudou a estruturar minha prática, sem podar minha raiz. Hoje, tudo o que desenvolvo em dança, performance ou mesmo no circo, carrega marcas dessa formação que soube respeitar o que eu trago e, ao mesmo tempo, provocar novas possibilidades”, comenta Mandu.
Entre na dança e inscreva-se
As inscrições para a nova turma do Curso Técnico em Dança estão abertas até o dia 06 de julho de 2025. Para participar, os interessados devem se inscrever, por meio de formulário virtual respeitando os seguintes pré-requisitos:
- Ter, no mínimo, 16 anos completos no ato da matrícula.
- Ter completado ou estar cursando o 2º ano do Ensino Médio
- Ter alguma experiência de dança comprovada por declaração, portfólio, certificado, diploma e outros, em qualquer linguagem de dança, que deve ser anexado ao formulário de inscrição.
Encerrado o período de inscrições, os candidatos passarão por duas etapas seletivas, ambas de caráter eliminatório. Na primeira, participarão de uma aula prática, durante a qual serão avaliados quanto ao desempenho e às técnicas aplicadas nos exercícios. Na fase final, cada candidato deverá apresentar um solo, em qualquer estilo de dança, e participar de uma entrevista individual.
O resultado com os nomes dos aprovados será divulgado no site e nas redes sociais da Porto Iracema das Artes no dia 18 de julho. A lista também incluirá até cinco suplentes, que poderão ser convocados caso haja desistência ou ausência de candidatos no momento da matrícula, respeitando a ordem de classificação.
Os aprovados frequentarão as aulas de segunda a sexta-feira, no turno da manhã, das 8h30 às 12h30. Durante o curso, os estudantes receberão uma ajuda de custo no valor de R$ 250. Para manter o benefício, será necessário cumprir as exigências descritas no documento disponibilizado pela coordenação do curso
Para mais informações sobre o processo seletivo, é possível consultar o Manual de Inscrição.
Cronograma do processo seletivo
- Inscrições online: 01/06 a 06/07
- Divulgação da lista de inscritos e agendamento da seleção: 09/07
- Processo seletivo – Fase 1: 15/07
- Divulgação da lista de classificados na Fase 1: 16/07
- Processo seletivo – Fase 2: 17/07
- Divulgação da lista de aprovados: 18/07
- Período de matrícula na secretaria da Porto Iracema: 23 a 25 de julho
- Início das aulas: 04/08
Sobre o CTD
Vinculado ao Programa de Formação Técnica da Escola Porto Iracema das Artes desde 2013, o Curso Técnico em Dança (CTD) é totalmente gratuito e tem como objetivo formar profissionais Técnicos de Nível Médio capazes de atuar em dança como intérpretes/criadores a partir de saberes práticos e teóricos aplicáveis em contextos artísticos, técnicos, culturais e sociais contemporâneos.
O CTD é reconhecido pelo Conselho Estadual de Educação pelo Parecer Nº 331/2022 com nota máxima em todos os tópicos de avaliação.
Sobre a Porto Iracema das Artes
A Porto Iracema das Artes é a escola de formação e criação em artes do Governo do Estado do Ceará, instituição da Secretaria da Cultura (Secult) gerida pelo Instituto Dragão do Mar (IDM).
Criada em 29 de agosto de 2013, há nove anos desenvolve processos formativos nas áreas de Música, Dança, Artes Visuais, Cinema e Teatro, com a oferta de Cursos Básicos e Técnicos, além de Laboratórios de Criação. Todas as ações oferecidas são gratuitas.
Assessoria de Comunicação Porto Iracema das Artes | Texto: Mayra Carvalho (estagiária) | Supervisão e edição: Gabriela Dourado (jornalista) | Publicado em 18 de junho de 2025