Escola de Formação e Criação do Ceará

Revista VÓS traz 04 projetos que já passaram pelo Laboratório de Música do Porto Iracema das Artes

A última edição da Revista VÓS está com uma matéria pra lá de especial com a nova safra de músicos cearenses, onde apresenta 03 projetos que já passaram pelo Laboratório de Música do Porto Iracema – Caio Castelo, Lorena Nunes e Astronauta Marinho –  e mais 01 selecionado recentemente para a edição 2016, o Projeto Rivera. O texto da Coluna Drops Sonoros é assinado por Cé da Silva. Confira!

Três semanas, esse é o período que separa a publicação da primeira Drops Sonoros desta segunda edição. E acredite, nesse tempo temos lançamentos de singles novos, um álbum inteiro, um novo ep, novos clipes e até um minidoc. Tudo nosso, tudo daqui. A ideia desse espaço é mostrar a produção desses artistas e contribuir para um um registro desse momento. E aí, o critério mais uma vez foi de trabalhos lançados nesses últimos dias. Se vamos conseguir sempre apresentar lançamentos, eu já não sei. Mas até aqui, o que tem nos chegado só comprova a sensação que já tínhamos há anos (anos mesmo): nossos novos músicos e bandas estão produzindo intensamente, sem parar. Vamos lá!

Caio Castelo – Dois Olhos

Pela forma como foi conduzido todo o processo, da concepção à finalização, este é um projeto que pode ser entendido quase como um presente para Fortaleza. Explico aqui: Caio, em 2013, lançava seu primeiro álbum, o “Silêncio em Movimento”. Na época, várias foram as ocasiões em que encontrávamos o cantor na rua e perguntávamos sobre o andamento do disco e ele respondia algo como “finalizei as baterias ontem”. É que o multi-instrumentista praticamente gravou esse primeiro registro sozinho, e aí imaginem a surpresa quando tivemos a oportunidade de ouvir o trabalho. Caio apresentou um álbum nada homogêneo, as instrumentações mudavam a cada faixa, eram repletas sim de poesias, mas até mesmo as temáticas não se repetiam. Em 2014, o também compositor teve o projeto “Dois Olhos” contemplado no Laboratório de Música do Porto Iracema das Artes, projeto do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Nele, com a orientação do produtor vencedor do Grammy Latino Alê Siqueira, Caio passou a desenvolver um show com novas composições, novos arranjos. Bom, nem é preciso dizer que ele já tinha então material para um segundo álbum nas mãos.

V%C3%B3s Caio

Aproveitou a parceria anterior com o Alê e o convidou para produzir o segundo disco. Lançou uma campanha de financiamento coletivo na Plataforma Partio e assim arrecadou os recursos para a gravação do projeto. A gravação em si foi um outro acontecimento. Caio, a banda que lhe acompanha e Alê Siqueira passaram oito dias em uma espécie de confinamento no estúdio-fazenda Gargolândia, em São Paulo. O processo foi registrado também em vídeo. Finalizações completas, agora em abril Caio lançou o “Dois Olhos”. Um passeio poético de dez faixas, ora dolorido, denso, ora leve, suave. Não há economia nos sentimentos e nem nas provocações, eu diria. Até o modo de cantar do intérprete me pareceu mais livre. Já tenho até meu amor declarado: ouçam “Nicarágua” e “Chão nos pés”. Eu já disse isso antes e vou ratificar aqui: meu desejo agora é que você, eu e Fortaleza possamos compreender e prestigiar um projeto com tanto apreço e cuidado. O álbum pode ser baixado gratuitamente no site oficial do cantor,caiocastelo.com. Abaixo, deixo vocês com o vídeo de “Destá”, uma das faixas do projeto, parceria entre Caio e Matheus Santiago.

Projeto Rivera – Canto Bom

Um rock alternativo, pop também, canções que carregam traços regionais, mpb e até mesmo baião. Esse é o Projeto Rivera, composto por músicos bem jovens mas que tem se mostrado bastante comprometidos com o trabalho que vêm propondo. A ideia foi concebida em 2013 e já no ano seguinte maturaram todo um processo que culminaria no lançamento de seu primeiro álbum em 2015, o EVTTOS, sigla para “Eu Vim Te Trazer O Sol”. Com 13 faixas, o disco faz um passeio por letras que exploram o cotidiano e hábitos de seus integrantes, histórias vividas e ouvidas que decidiram compartilhar através da música. Junto com o álbum, eles também realizaram uma série de ações incluindo a produção de “lyrics”, aqueles vídeos onde o foco é a letra da canção como em “Estrela”; intervenções urbanas em Salvador, Recife, Fortaleza utilizando lambes com trechos das músicas, sem contar no processo de produção do disco físico que foi em grande parte manual, demonstrando o carinho e cuidado que os músicos tem pela ideia.

V%C3%B3s Rivera

Daí então, o grupo não parou: em Fortaleza, já abriram show para Clarice Falcão, Léo Fressato, participaram ano passado do Festival MADA em Natal depois de uma exaustiva seletiva que envolveu até mesmo votação popular na web e agora encaram mais uma votação no concursoEDP Live Bands que tem no seu pacote de premiação um show em Portugal. Tem mais! A banda acaba de ser uma das contempladas no Laboratório de Música do Porto Iracema das Artes e lá vai também desenvolver o seu segundo álbum. Há alguns dias, o Rivera soltou em seu canal no youtube o vídeo para a canção “Canto Bom”, que faz parte desse próximo CD. Na verdade, a música já tinha um registro feito pelo vocalista do Projeto, o Vitor Caliope, em uma versão acústica, e agora ganha arranjos e ainda mais força com toda a equipe.

Lorena Nunes – Minha Praia

Há quase dois anos Lorena lançou seu primeiro álbum, “Ouvi dizer que lá faz sol”. O projeto passou inicialmente pelo Laboratório de Música do Porto Iracema das Artes e, depois de devidamente gravado, ganhou o mundo. Eu lembro até hoje o impacto que foi a primeira audição do disco. A cantora, em conversas anteriores, já havia falado dessa espécie de busca de afirmação de pertencimento com a terra solar e o projeto no todo só confirmou sua intenção. Lorena é filha de pais paraenses, mas nasceu no Rio, veio para Fortaleza com um ano de idade e vez por outra se depara com a pergunta “tu é de onde?”. Como resposta, agora ela não tem apenas só palavras, mas um álbum inteiro. Em julho do ano passado, em passagem por São Paulo para contatos e parcerias, a intérprete se viu naquele dilema que ainda paira muito sob nossos músicos de ter que buscar esses grandes eixos para capitarizar seu trabalho.

 Vós-Lorena

Mas ela mesma percebeu que se tivesse que algum dia sair da capital cearense buscaria algo muito semelhante ou que pelo menos tivesse mar e com certeza voltaria. Aí nascia os primeiros versos dessa relação que ela começava a dilacerar ainda mais com Fortaleza, “eu vou, eu voo, e volto pra ti…”. Não deu outra! Ligou para seu parceiro Cláudio Mendes e anunciou que tinha uma canção nas mãos que precisariam mexer o quanto antes, porque ela queria lançar ainda no aniversário da nossa capital. Alguns encontros depois, alterações de melodias, estrutura, mixagens, nasceu “Minha Praia”, que ganhou também um registro audiovisual pelo Rafael Cavalcante. Sobre um possível novo álbum, Lorena conta que ainda pretende caminhar um pouco mais com o primeiro disco, acha inclusive que o formato com doze, treze faixas, pode e deve ser desafiador e no momento tem deixado aflorar esse lado compositora. Então, deixo aqui o vídeo de “Minha Praia” que, na verdade, já foi até lançado aqui no Vós no dia do aniversário da nossa cidade, mas achei que a história por trás da composição merecia ser contada.

Para conhecer mais o trabalho da Lorena é só acessar o site oficial da cantora. Lá inclusive tem link para baixar o seu primeiro álbum. Isso aqui não é conversa de admirador, não! Espia o vídeo de “Alegria Amarela”, faixa que abre o “Ouvi dizer que lá faz sol”, e me diga depois se você não fica inebriado com esse som.

Swan Vestas – O primeiro EP

Você possivelmente já deve ter visto ou ido a uma apresentação da Swan Vestas aqui pela cidade, isso porque a banda atua desde 2009, mas só agora lançou o seu primeiro trabalho. O som vem sendo produzido e pensado há tempos, mas questões como a mudança de formação e algumas pausas fizeram com que o EP, homônimo, ganhasse vida neste último mês. Com cinco faixas, algumas delas captadas ao vivo em estúdio, o grupo produz o que eles chamam de “rock direto e sem frescura”. Grande parte da primeira etapa do projeto foi trabalhada aqui com a moçada do Mocker Stúdio (guardem esse nome), a mixagem e masterização ficaram por conta do estúdio Costella de São Paulo. Demorou, mas o resultado é de quem, mesmo com as paradas, trabalhou muito para entregar uma música coesa e pulsante.

V%C3%B3s Swan Vestas

Ficou tudo muito harmonioso, mas também “cru”, sujo. Em alguns momentos você parece estar ouvindo uma “session”, tanto é que o EP ficou rodando em looping durante uma tarde inteira por aqui. A atual formação da banda conta com Danny Husk (voz), Bruno Pereira (guitarra), Teago Oliveira (baixo) e Rildney “Bee Sheen” (bateria). E olha que legal: a última canção, “You Make me Feel Alright”, na verdade um bônus track, traz faixas de guitarra, baixo e bateria gravadas ainda pelos ex-integrantes. Uma forma bonita de falar que todos que passaram pela Swan também fazem parte do EP. E fazem mesmo. Disponível nas plataformas Spotify, Deezer e também no canal da banda no Youtube. Agora pare um pouco e conheça mais do que estamos falando.

Mad Monkees – Loverself

São sete meses de atividades e, nesse período, a Mad Monkees já gravou um EP, lançou cinco clipes, participou de festivais dentro e fora do estado e já soltou até material do próximo trabalho! E você se pergunta “como ?” se talvez não conheça a banda? A resposta pode estar no time que compõe a formação. O projeto é formado por músicos experientes da cidade: Felipe Cazaux (guitarra e voz), Capoo Polacco (guitarra), Hamilton de Castro (baixo) e PH Barcellos (bateria).

V%C3%B3s Mad Monkees

A música, um stone rock pesado, mas aberto a outras possibilidades sonoras. Como o nome “produção” parece fazer muito sentido para os integrantes, a banda já prepara um próximo registro, ainda sem formato completamente definido. Mas, no começo desse mês, a faixa Loverself, já deste novo trabalho, ganhou vídeo gravado durante a participação deles no Festival do Sol no Rio Grande do Norte. E a gente ganhou junto também. Abaixo, o vídeo. Mas você pode conferir também o EP na íntegra através das plataformas da banda, como no soundcloud.

Astronauta Marinho – Minidoc

Para encerrar esta edição da Drops Sonoros, Astronauta Marinho. A banda é instrumental e se desse para definir o “estilo” (termo perigoso esse) do grupo, penso que o ideal seria ‘possibilidades’. Resultado de composições iniciais do guitarrista Felipe Lima, o projeto se firmou em 2011. Hoje também conta com Rafael Viana (guitarra), Caio Cartaxo (baixo), Chagas Neto (piano e sintetizadores), Daniel Lima (guitarra, sintetizadores) e Guilherme Alvez (bateria). São três registros até hoje, incluindo o último, de 2015, “Menino Sereia”. Aqui, mais uma vez, a tessitura cotidiana, as experiências e diálogos dos integrantes ditam o teor do mergulho proposto pelas sonoridades exploradas: há um encontro com o regional, como também com o psicodelismo e de repente você esbarra no eletrônico. É como se você estivesse diante de uma narrativa, só que é você quem vai construir a história a partir dos elementos que eles dispõem através das faixas. A sensação não poderia ser outra: imersão. Experimente por exemplo ouvir “Sherenay” ou “LU.PI.AR” do segundo trabalho, o Fartozalê (anagrama de Fortaleza), e tente escapar da delicadeza e até mesmo melancolia que a cidade salgada nos impõe. Depois, encare “Nas Gruta” e a “Kumbia #5”, ambas apresentadas na sequência no último álbum, e perceba um intrigante deslocamento de sentimentos sombrios que algumas canções nos trazem para uma felicidade quase que litorânea. Eu mesmo já criei várias histórias ao som da banda. Penso que juntos eles desenvolveram uma espécie de saga do menino mar diante de um oceano de sentimentos.

V%C3%B3s Astronauta

Em 2014, a banda foi uma das contempladas no Laboratório de Música do Porto Iracema das Artes. Na ocasião, sob a tutoria do músico, produtor e compositor Régis Damasceno, amadureceram e trouxeram mais elementos ao show deste terceiro trabalho que incluía uma experiência em que o visual funcionasse junto com o áudio. Nessa leva de apresentações, em agosto e setembro do ano passado eles foram parar no Rio de Janeiro e em São Paulo no que definem como um momento importante para o grupo. A viagem foi independente, tirada do bolso e com responsabilidades como dividir tarefas, custos, problemas. Uma vivência, literalmente. O resultado só foi sentido mesmo depois que o furacão de realizar os shows passou: conheceram bandas, artistas, novos públicos, lugares, novos contatos, parcerias… Mas o que marcou mesmo foi o sentimento unânime de que toda essa jornada valeu a pena para estar no palco tocando suas composições. O legal é que eles registraram a viagem e o material virou um minidoc, que eles publicaram agora, no dia 20 de abril. Abaixo, o vídeo. Eu não sei vocês, mas sabe aquela saga que falei acima, pois é, parece que ganhou vida.

Faixas Bônus

Chinfrapala – Estudo Setorial

O coletivo de artistas que surgiu em 2012 e mistura em seus trabalhos várias linguagens como poesia, música, artes visuais e cinema, lançou no mês de março mais um projeto. Estudo Setorialmescla hip hop, samples, música eletrônica e instrumental para nos levar a mais uma experiência sonora carregada de hibridismos, perguntas, dilemas. Download Free.

Ivan Timbó – Pilot

Na coluna passada falamos de Ivan, de como a sua produção estava a todo vapor e da finalização do seu mais novo álbum. Espero que você tenha ouvido o trabalho do beatmaker, já que ele cumpriu a promessa e lançou o “Pilot”, seu quinto registro. Agora é correr para acompanhar!

As fotos e material gráfico usados nesta coluna foram enviados pelos músicos e bandas aqui apresentados.