Para um setor com investimentos públicos da ordem de mais de R$ 1 bilhão, via Fundo Setorial do Audiovisual, o formato de apresentação pública dos roteiros é inédita no Brasil e contará com a presença dos cineastas Karïm Ainouz, Marcelo Gomes e Sérgio Machado, além de um júri formado por reconhecidos produtores brasileiros.
O Laboratório de Audiovisual do Porto Iracema das Artes encerra mais um ano de atividades. Com intensa programação durante a semana na 5ª Mostra de Artes do Porto Iracema (MOPI5), no próximo dia 16 de dezembro, das 9h às 13h, no Cinema do Dragão do Mar, acontecerá o Pitching de Roteiros de longa-metragens produzidos pelos roteiristas selecionados em 2017. Em uma apresentação pública para a cidade, os roteiristas defenderão de maneira criativa suas histórias, sob o olhar atento de um júri que premiará, ao final, dois projetos entre os seis da programação. O evento é gratuito e aberto ao público.
Cada projeto deverá ser apresentado em até trinta minutos (15 para exposição e 15 para responder a perguntas dos avaliadores). Os roteiristas podem exibir vídeos, contar com performances de atores ou, simplesmente, fazer leituras dramáticas dos textos. O projeto selecionado em primeiro lugar pelo júri receberá como prêmio uma ida ao Rio Content Market (Encontro de Negócios do Setor Audiovisual da América Latina) e o segundo, uma viagem para participar do FRAPA – Festival de Roteiros de Porto Alegre.
O momento do pitching contará com a presença dos tutores do Laboratório de Audiovisual, Karim Aïnouz, Marcelo Gomes e Sérgio Machado, além de importantes produtores e cineastas convidados, como Caio Gullane (Gullane Entretenimento), Luana Melgaço (Produtora Anavilhana), Nina Kopko (produtora independente), Paula Consenza (Bossa Nova Films / Pandora Filmes), Muriel Pérez (Ouaga Film Lab / Burkina Faso), Ernesto Soto (produtor independente) e o documentarista João Moreira Salles (Videofilmes).
À tarde, acontece ainda a segunda parte do pitching, que consiste em uma rodada de negócios, fechada para o público, com os avaliadores dos roteiros apresentados pela manhã. A partir da análise desses dois momentos, os jurados decidirão os dois projetos vencedores. O resultado da premiação será divulgado na semana seguinte a realização do pitching.
LABORATÓRIO DE AUDIOVISUAL
O modelo dos Laboratórios de Criação do Porto Iracema das Artes é inédito, especialmente no que se refere ao tempo dedicado aos estudos. A diretora do Porto Iracema, Bete Jaguaribe, observa que a formação de novos roteiristas é estratégica para o processo de consolidação do campo audiovisual do país. “O cinema é a área de maior investimentos públicos de cultura do país e de maior performance econômica em todo mundo. Nós estamos preparando criadores para disputar este mercado, que continua muito centralizado no sudeste”- afirmou a diretora, observando que Fundo Setorial do Audiovisual investiu, no período de 2009 a 2014, aproximadamente 990 milhões de reais no cinema brasileiro. Bete Jaguaribe ainda observa a importância do Ceará nesse momento de consolidação do cinema nacional. “O governo do Ceará tem o melhor projeto público de formação para o audiovisual do país, além de uma importante agenda de investimentos”.
Atualmente, o Ceará é um dos mais importantes polos regionais de realização do país, reconhecido pela Agência Nacional do Cinema – Ancine, que construiu uma forte parceria com o Governo do Estado. Em maio de 2017, o Governo do Estado do Ceará lançou o Ceará Filmes – Programa de Desenvolvimento Estadual do Audiovisual do Ceará, com investimentos da ordem de R$ 59 milhões apenas para esse ano, sendo R$ 40 milhões da Ancine e R$ 19 milhões do orçamento estadual. Estes recursos serão investidos em produção, difusão e formação em audiovisual, incluindo o programa Cinema na Cidade, que prevê a implantação de 22 salas de cinema em dez municípios do estado.
Os seis roteiros desenvolvidos ao longo da formação no Laboratório de Audiovisual receberam a tutoria de grandes cineastas brasileiros. O cearense Karim Aïnouz orientou os roteiristas Daniel Edmundson e Tuca Siqueira na escrita do roteiro de La Ursa. Ele também é tutor do projeto Tempo de Matar Cachorro, de Leandro Alves e Pedro Rocha. Entre as obras mais conhecidas do cineasta estão Madame Satã (2002), O céu de Suely (2006) e Praia do Futuro (2014).
Já os projetos Amores Paraguayos, de Pedro Cândido e Taís Monteiro, e Todas as vidas de Telma, das roteiristas Adriana Botelho e Reneude Andrade, ficaram sob tutoria do pernambucano Marcelo Gomes, diretor dos filmes Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo (2009) e Joaquim (2017).
Na lei e na marra, de Rafael Amorim, e Onde não tem casa, de Emilly Benevenuto e Fernanda Brasileiro, tiveram Sérgio Machado como orientador. Entre as produções do diretor baiano, estão Cidade Baixa (2005), Tudo que Aprendemos Juntos (2014) e o documentario A Luta do Século (2016).
ROTEIROS DO PITCHING 2017
Na lei ou na marra
(2017, longa-metragem, faroeste político, ficção) – Pernambuco
2020. Violeta (33) faz parte de uma comunidade de agricultores do Sertão Pernambucano que tem seu território ameaçado por uma grande empresa de energia eólica. Eles sofrem constantes ameaças da polícia e da justiça para deixar o lugar. A crise chega ao ponto máximo quando as terras vão a leilão judicial. Esgotadas as possibilidades de negociação com o sistema jurídico e financeiro, o grupo decide se insurgir. Violeta vai à procura de Sebastião, antigo morador do assentamento e ex-assaltante de carro-forte. Juntos, organizam um bando de 6 pessoas que planejam explodir caixas eletrônicos de uma agência bancária para garantir a compra das terras no leilão. O assalto é bem-sucedido, mas eles são extorquidos pela polícia e perdem todo o dinheiro. Sem saída, a comunidade se prepara, então, para o confronto em defesa de suas terras.
Roteirista
Rafael Amorim é graduado em Comunicação Social na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e desde 2005 trabalha com cinema. Faz parte do coletivo Jacaré Vídeo, onde produziu conteúdos para a TV Pernambuco. Realizou o longa documental Ramo (2015), foi montador da série para TV Mulher original (2016), e dirigiu o curta-metragem Nanã (2017), vencedor de 4 prêmios no Festival de Triunfo, incluindo o de melhor filme. Na Lei ou na Marra será seu primeiro longa-metragem.
La Ursa
(2017, longa-metragem, farsa policial, ficção) – Pernambuco
Uma metrópole do Nordeste do Brasil. 2017. Algo inusitado acontece num residencial de classe média: o zelador encontra o corpo de um jovem desacordado no pátio, que caiu após levar um choque ao pular o muro. O que acontecera com a cerca projetada para eletrocutar até a morte e ejetar os invasores para fora dos limites do condomínio? Indiferentes a prestar socorro ao invasor e preocupados com o sistema de segurança, moradores se esforçam em diagnosticar a falha na cerca elétrica executando planos absurdos. Anoitece e o pânico se instaura. Eles decidem aumentar brutalmente a voltagem da cerca, causando um blackout geral. Para defender o prédio, os moradores formam uma milícia armada. Enquanto isso, longe do controle dos adultos, as crianças criam uma gangue inspirada no mito da La Ursa* e cometem delitos dentro do condomínio, num domingo que parece não ter fim. La Ursa é uma farsa, uma crítica aguda à esquizofrenia da sociedade contemporânea, encarcerada no próprio medo.
* Brincadeira carnavalesca tradicional do Recife, que tem suas origens nos ciganos da Europa. Estes percorriam a cidade com seus animais presos numa corrente, ao som da ordem: “A La Ursa quer dinheiro, quem não der é pirangueiro!”.
Roteiristas
Daniel Edmundson é diretor, roteirista e integrante da produtora pernambucana Bateu Castelo Filmes, fundada em 2011. Foi diretor de animação e roteirista de interações do aplicativo Flicts de Ziraldo, que recebeu o prêmio Jabuti 2015 (3º Lugar na categoria Infantil Digital). Corroteirizou e codirigiu o telefilme Bode de Natal (2016), em coprodução com a Globo Filmes. Este foi exibido como especial de natal na Rede Globo Nordeste e, posteriormente, pelo Canal Brasil.
Tuca Siqueira é roteirista e diretora. Realizou seu primeiro filme em 2003 e acumula 8 curtas e dois longas-metragens, entre documentários e ficções, além de três séries televisivas documentais. Participou de laboratórios de roteiros e encontros de coprodução no BRLab e no Cine Latino Toulouse. Seu roteiro, Coração de Lona, foi desenvolvido através do edital Núcleos Criativos. Lançou o seu primeiro longa-metragem em 2017, Amores de Chumbo, exibido no Festival do Rio e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Amores Paraguayos
(2017, longa-metragem, filme de estrada, ficção) – Ceará
2017. Dalva (65) comemora sua última noite na prisão. Ela planeja encontrar Consuelo (73), ex-companheira de cárcere e grande amor da sua vida. Juntas desejam realizar um sonho romântico: viver seus últimos dias no Paraguai, terra natal de Consuelo. O motorista contratado para levá-las rouba o dinheiro de Dalva. Desesperada, ela pede auxílio à Rosa, filha que não vê há mais de dez anos. Rosa rejeita a visita da mãe, da qual alimenta mágoas, mas, ainda assim, aceita levá-las nessa jornada. A condição é: receber dez mil reais para pagar as suas dívidas. Escondidas de Rosa, o casal de idosas comete pequenas roubos e, dessa forma, vão conseguindo o dinheiro da viagem. Mas, em um grande assalto, Rosa se torna cúmplice do casal. Perseguidas da polícia e há poucos quilômetros da fronteira, mãe e filha se reaproximam.
Roteiristas
Pedro Cândido é Mestre em Comunicação – Fotografia e Audiovisual pela Universidade Federal do Ceará (UFC), onde desenvolveu uma pesquisa sobre memória e imagem. Em 2015, participou do Laboratório de Audiovisual da Escola Porto Iracema das Artes, tendo desenvolvido seu primeiro roteiro de longa-metragem, Fortaleza Hotel, em parceria com Isadora Rodrigues. O filme foi contemplado na chamada pública PRODECINE 05 – 2016 e integrou o 6° Laboratório Novas Histórias, além de estar com filmagem prevista para 2018, com direção de Armando Praça.
Taís Monteiro é fotógrafa e formada em jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). É mestranda em Fotografia e Audiovisual pela mesma universidade, onde desenvolve uma pesquisa sobre o Real Maravilhoso na fotografia da América Latina.
Onde não tem casa
(2017, longa-metragem, suspense, ficção) – Ceará
Luísa (14) e Alê (16, homem transgênero) são irmãos de criação cuidados pela avó Otília (54) num ambiente de tolerância e absoluta liberdade. No entanto, após a morte repentina da avó, eles são obrigados a morar com a tia Eliete (31) e o seu marido Antônio (40), um policial que passa a impor regras abusivas à convivência familiar. Antônio não suporta a transgeneridade de Alê e o discrimina constantemente. A situação se agrava quando Luísa suspeita que Antônio lhe deseja. Numa festa familiar, com a casa cheia de convidados, o tio, bêbado, assedia a sobrinha. Alê percebe e enfrenta Antônio, expondo-o publicamente, mas Eliete não acredita no sobrinho. Alê acaba expulso de casa e, em seguida, é preso após a tentativa de denunciar Antônio à polícia. Apavorada com a violência do tio e sem notícias do irmão, Luísa foge de casa, mas Antônio a intercepta no caminho e a aprisiona. Furioso, ele ameaça a vida de Luísa na frente de Eliete, precipitando uma tragédia na qual um deles não escapará com vida.
Roteiristas
Fernanda Brasileiro é formada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e trabalha com direção e roteiro desde 2012. Realizou os filmes Atalanta (2017), Aquele Céu de Azul-Petróleo (2016) e Como o Vento (2012), todos com conflitos de personagens femininas no espaço do sertão cearense. O roteiro de Onde não tem casa é uma continuidade desses trabalhos.
Emilly Benevenuto é atriz e graduanda do Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Ceará (UFC). Trabalhou nas equipes de som e produção dos filmes O Vale (Dir. Israel Branco, 2017) e Oceano (Dir. Michelline Helena e Amanda Pontes, 2017), respectivamente. Atua e é codramaturga da peça cearense Trinta e Duas, além de ter sido lead singer da banda Madame Saturno.
Todas as vidas de Telma
(2017, longa-metragem, falso documentário) – Ceará
Ana (35) vive em Lisboa e passa por uma crise profissional e afetiva. Nesse momento, é chamada para ir ao Crato, interior do Ceará, onde precisa resolver um inventário familiar com a morte da tia-avó, Telma Saraiva. Ao chegar na região, se defronta com as imagens da sua infância que emergem a partir da descoberta do acervo fotográfico de Telma. Sua tia-avó foi a primeira mulher foto-pintora do Crato, e chegou a desenvolver uma técnica refinada nunca antes vista na fotopintura. Ana desvenda para si o trabalho de Telma e tem uma epifania ao entrar em contato com os personagens femininos pintados por ela: mulheres que revelam a fantasia dos ritos sociais, sendo estas construídas e incorporadas. Diante da obra da tia-avó, Ana decide urgentemente mudar a sua própria vida.
Roteiristas
Adriana Botelho é professora de história da arte na Universidade Federal do Cariri, onde também faz parte do projeto de extensão Cine Arte Clube, que realiza exibições de curtas-metragens, palestras e oficinas. É formada em dramaturgia pelo Instituto Dragão do Mar e doutoranda pela Universidade de Lisboa, onde investiga as interposições entre o cinema de ficção e o documental
Reneude Andrade é formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e em dramaturgia pelo Instituto Dragão do Mar. Fez o curso de cinema de animação na TV Ceará, em convênio com a National Film Board of Canadá, no qual produziu curtas-metragens enquanto diretora e roteirista. Escreveu também o filme de animação Campo Branco (Dir. Telmo Carvalho, 1997), premiado em diversos festivais pelo mundo.
Tempo de Matar Cachorro
(2017, longa-metragem, horror canibal, ficção) – Ceará
2017. Kim (18), natural de Fortaleza, é filho único de pais sul-coreanos. Desde que a mãe os abandonou, ele vive só com pai. Apesar de sua fascinação pela culinária, é obrigado a trabalhar na confecção familiar até que o pai é brutalmente assassinado em um assalto. Livre do jugo paterno, Kim decide vender o que herdou e muda-se para o Cumbuco, uma praia próxima à Fortaleza, onde milhares de operários sul-coreanos estão alojados para a construção de uma indústria siderúrgica. Neste cenário de oportunidades, Kim abre seu próprio restaurante. Inicia, assim, uma jornada pautada na ambição desmedida pelo sucesso financeiro. Conquista a clientela sul-coreana e se torna o primeiro cozinheiro a servir o boshintang na América Latina: um tradicional ensopado de carne de cachorro com propriedades místico-afrodisíacas. O restaurante é um êxito até ser interditado pela vigilância sanitária. Ao enfrentar os obstáculos da lei, Kim passa a empreender uma escalada de violência sem limites contra a natureza e os homens. Tempo de Matar Cachorro é uma parábola original e urgente sobre a barbárie na qual desemboca o capitalismo contemporâneo.
Roteiristas
Leandro Alves é formado em filosofia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), jornalismo na Faculdade Devry Fanor e cinema pela Vila das Artes. Trabalhou como produtor no longa-metragem Corpo Delito (2017), que integrou a 20ª Mostra de Cinema de Tiradentes, a 60ª edição do Festival Internacional de Leipzig de Cinema Documental e Animado e o Forumdoc.bh. Foi roteirista e produtor do curta-metragem Iracema (2017), selecionado na Mostra Olhar do Ceará do 27º Cine Ceará.
Pedro Rocha é formado em jornalismo, com mestrado sociologia, ambos pela Universidade Federal do Ceará (UFC). No cinema, trabalha como diretor, produtor e roteirista. Produziu uma série de documentários jornalísticos sobre direitos humanos, até estrear com o longa-metragem Corpo Delito (2017), que integrou a 20ª Mostra de Cinema de Tiradentes, a 60ª edição do Festival Internacional de Leipzig de Cinema Documental e Animado e o Forumdoc.bh.
SERVIÇO
O que: Pitching de roteiros do Laboratório de Audiovisual do Centro de Narrativas Audiovisuais do Porto Iracema das Artes
Quando: Sábado, 16 de dezembro, das 9h às 13h
Onde: Cinema do Dragão (R. Dragão do Mar, 81 – Praia de Iracema)
GRATUITO