“233 A, 720 Khalos”, um território, um endereço fixo e varias historias, vestidas de dores. Perdas acumuladas e sonhos desenfreados de uma mente que segue voando com um corpo que parece pedir para parar. Uma mulher com uma trilha que ficou no passado, e tem no presente uma trilha habitada por obstáculos, coberta por estrias e tatuada de cicatrizes. Um corpo segmentado e cheio de dores. Mas esse corpo insiste em dançar! Um percurso de brincante de um corpo que salta na mente e no espaço, dar lugar a esse corpo oprimido, preso com poucas possibilidades de movimento. Busca aproximação de territórios parecidos. Acha em algumas mulheres, que escreveram seus nomes na historias, trilhas interessantes e diferentes formas de lidar e experenciar a “RESILIENCIA”. Se apaixona por Frida Khalo, o que as liga esta no corpo. Sempre achou que seus “monstros” não achariam parceiros…. Mas Frida a aproximou dessa possibilidade e a introduziu ao surrealismo, conheceu Salvador Dali, Labirintos e Minotauros são as imagens que permeiam sua mente desde o inicio dessa expedição por Frida e Dali.
Um estudo por ambos, mesmo que sem tanta profundidade de abordagem, a apontaram uma trilha: ambos em seus tempos, tiveram as terras marroquinas como território de fuga, inspiração e porque não “esconderijo”. Isso a fascinou! Sua historia esta vestida de África, pelo menos aquela que conheceu no Brasil. E lá fui ela, em janeiro de 2017, fazer o trecho marroquino feito por ambos: Barcelona para Marrocos e de lá: Marrakesh, Casa Blanca, Fés, Chefchouen, Deserto de Sahara e Oazananate. Dezesseis dias de mergulho em cidades, pessoas, costumes, deserto, modos de existir, “burcas”, “rituais” e modos de ser. Ela tem ai uma pesquisa prática, impressa no corpo e na alma, mas precisando de relato escrito e produto final. Muitas questões a habitaram: Que corpo suporta tanta dor e habita tamanha “resiliência”, ali viu na mulher marroquina com o uso da burca muito a se pensar, o passeio pelas medinas, que são verdadeiros labirintos, a fez habitar medo, um corpo no labirinto tem muito a nos dizer, pensou ela! O monocromático do deserto de Sahara, com sua paisagem sonora tão ligada ao vento, provocando diferentes sonoridades, fez aflorar personagens mil em sua mente.
Terá Dali vivido isso quando de sua obra a “garota na Janela”, a obra mais divergente de toda a sua obra surrealista? São esses personagens, que acordaram nela que de fato a habita? Essa obra desvenda o mistério da sistematização da pesquisa. Do desenho da dramaturgia, o que de fato quis como resultado. Convidou Andrea Bardawil para lhe dirigir, Margô Assis pra ser sua Tutora, Marcelo Paes de Carvalho pra dirigir a parte videogrfáfica, Rodrigo Claudino pra dirigir a música e Carina Santos, também integrante da Cia Vatá pra assistir na escuta e direção da obra. E nasce assim “233 A, 720 Khalos”.