(Imagem: Micaela Menezes)
Criado a partir da luta de bailarinos por políticas públicas de capacitação acessível, o Curso Técnico em Dança (CTD) chega à marca de 20 anos como referência nacional em formação gratuita e com mais de 200 artistas formados
Nascida da união entre movimento e ritmo, a dança é uma das mais antigas expressões artísticas da humanidade. Usada desde a antiguidade como forma de cultuar e celebrar, a arte é rica em diversidade e dinamismo, características que garantiram sua renovação ao longo dos séculos e permitiram que ela chegasse à contemporaneidade nas mais diferentes maneiras: em espetáculos refinados em grandes teatros, em aulas em academias de bairros e até em vídeos populares nas redes sociais.
A variedade de abordagens e estilos do campo artístico desperta o interesse de milhares de pessoas. Mas, se aprofundar no universo da dança não é um processo simples, principalmente no Ceará. No Estado, quem busca se aprimorar na arte encontra um cenário inacessível e com poucas oportunidades.
DANÇA PARA POUCOS
Foi com essa realidade que a bailarina Wilemara Barros, um dos principais nomes da dança cearense, se deparou quando iniciou a carreira no campo artístico, no final da década de 1970.
“Vindo da periferia, de origem humilde, o grande desafio era permanecer com meus estudos em dança, sem ter o poder aquisitivo necessário para estar inserida em uma arte até então elitista, com quase nada de materiais de estudos. E os pouco livros que existiam eram caros ou sem tradução para a língua portuguesa”, conta a bailarina.
Por muitas décadas, as únicas alternativas para os cearenses que buscavam se profissionalizar na arte eram pagar mensalidades altas ou conseguir bolsas de estudos em academias de dança, normalmente focadas apenas no estilo clássico.
“Eu sou de uma geração em que, para você dançar, você entrava em uma academia de balé do bairro. E eu frequentei uma academia de bairro até chegar no ponto em que eu quis desenvolver uma formação em dança e aqui [no Ceará] não tinha. Não tinha curso de graduação em dança e não tinha política pública em dança. Então, eu tive que sair do Estado”, relata Bilica Léo, bailarina há mais de 20 anos e hoje coordenadora do CTD.
LUTA POR CAPACITAÇÃO GRATUITA DE QUALIDADE
A realidade só começou a mudar no início dos anos 2000, após a criação do Fórum de Dança do Ceará, grupo formado por professores, dançarinos, pesquisadores e produtores de dança cearenses. Determinados a transformar o cenário do campo artístico no Estado, os profissionais lutaram pela implementação de políticas públicas que tornassem a arte mais acessível e diversificada.
Foram as demandas levantadas pelo grupo que resultaram no surgimento do Curso Técnico em Dança (CTD), fundado a partir de parceria entre a Secretaria de Cultura do Estado (Secult CE), o Instituto Dragão do Mar (IDM) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Fundado em 2005, o curso foi a primeira formação a oferecer ensino técnico de dança no Ceará de forma gratuita.
Desde então, o CTD tem sido presença marcante na cena cultural cearense ao longo das últimas duas décadas, já tendo formado mais de 200 dançarinos, oriundos de diferentes localidades do Ceará e, até mesmo, de outros estados do Nordeste.
Atualmente, o curso integra o Programa de Formação Técnica da Porto Iracema das Artes – Escola de Formação e Criação do Ceará, que integra a Rede Pública de Equipamentos da Secretaria de Cultura do Estado (Rece), gerida em parceria com o Instituto Dragão do Mar – e é coordenado pela bailarina Bilica Léo.
A coordenadora faz questão de reforçar a importância da formação para dançarinos de todo o país, destacando-a como uma referência nacional em capacitação artística gratuita. “Nós temos um dos cursos de dança mais importantes nacionalmente, e muito por conta de sua longevidade. São raros os cursos técnicos de dança gratuitos [no Brasil] que estão em atividade mesmo com uma ou duas décadas, como é o nosso caso. A gente, inclusive, já teve alunos de fora do Estado, vindos do Maranhão e do Piauí, que vieram devido ao CTD. Fora os que vêm do interior só para participar do curso. Isso mostra a força dessa formação”, reforça Bilica.
(Imagem: Micaela Menezes)
O CTD é referência nacional em capacitação artística
O reconhecimento em âmbito nacional reflete o compromisso do curso com a excelência na formação de seus estudantes. Durante a participação no CTD, os alunos têm a oportunidade de expandir seus horizontes profissionais por meio do contato com diversas técnicas, práticas e funções que compõem o universo da dança.
Para Wilemara, que integrou o quadro de professores da formação por anos, essa diversidade de ensinamentos e práticas é um dos diferenciais do CTD: “O curso, ao longo desses 20 anos, vem trazendo um pensamento jovem e acolhendo alunos de diferentes linguagens. Vem capacitando, habilitando e inserindo profissionais no mercado de trabalho em diversas áreas e em outros fazeres e âmbitos culturais sociais contemporâneos.
A bailarina Clarissa Costa, integrante da turma de 2010, é uma dessas artistas. Mais de uma década após deixar o curso, ela segue atuando na área e atribui uma parte importante de seu crescimento artístico e profissional à participação no Curso Técnico em Dança.
“No CTD, eu tive a certeza de que era possível ser muita coisa dentro do campo profissional da dança. Foi a formação mais comprometida, atenta e diversificada que vivenciei, foram dois anos encontrando novas maneiras de mover e estudar. E hoje eu me vejo uma profissional com muitas ações diferentes dentro da área: sigo intérprete da cena, professora de dança, interlocutora em processos de criação de outros artistas, criadora de acessibilidade estética e consultora em Acessibilidade Cultural”, relata Clarissa.
EM BUSCA DE NOVOS TALENTOS
Celebrando essa e outras histórias de sucesso escritas ao longo dos últimos 20 anos, o Curso Técnico em Dança está com inscrições abertas para novos estudantes. Para participar da turma 2025, os interessados devem se inscrever, por meio de formulário virtual, no processo seletivo da formação até o dia 06 de julho, respeitando os seguintes pré-requisitos:
- Ter, no mínimo, 16 anos completos no ato da matrícula.
- Ter completado ou estar cursando o 2º ano do Ensino Médio
- Ter alguma experiência de dança comprovada por declaração, portfólio, certificado, diploma e outros, em qualquer linguagem de dança, que deve ser anexado ao
- formulário de inscrição.
Após o término do período de inscrições, os candidatos passarão por duas etapas seletivas, ambas com caráter eliminatório. Na primeira, os artistas participarão de aula prática, onde serão avaliados o desempenho e as técnicas utilizadas durante os exercícios. Na fase final, cada inscrito deverá apresentar um solo, de qualquer estilo de dança, e participar de entrevista individual.
A lista de candidatos aprovados será divulgada no site e nas redes sociais da Porto Iracema das Artes no dia 18 de julho. O resultado também divulgará os nomes de até cinco suplentes, que poderão ser chamados eventualmente em caso de desistência de aprovados ou não comparecimento no período de matrícula, respeitando a ordem de classificação. Para mais informações sobre o processo seletivo, é possível consultar o Manual de Inscrição.
Os candidatos aprovados participarão de aulas ministradas de segunda a sexta-feira, no período da manhã, das 8h30 às 12h30. Durante o período de duração do curso, os estudantes recebem ajuda de custo no valor de R$ 250. É importante ressaltar que, para garantir a continuidade do benefício, os alunos deverão cumprir as exigências apresentadas no manual disponibilizado pela Coordenação da formação.
Com carga horária total de 1500 horas, o curso dura dois anos e é ancorado em três eixos pedagógicos, sendo eles “Práticas e Técnicas Corporais”, “Dança, Cultura e Sociedade” e “Pesquisa e Criação em Dança”. Os módulos permitem que os estudantes explorem diferentes abordagens e ritmos, aprendendo desde Jazz e Dança Clássica até Dança Contemporânea e Danças Urbanas. Nas aulas, ainda são trabalhados temas como ancestralidade, dramaturgia e construção de performances.
(Imagem: Micaela Menezes)
Durante as aulas, os estudantes aprendem sobre diferentes ritmos e temas, como dramaturgia e construção de performances
SOBRE O CTD
Vinculado ao Programa de Formação Técnica da Escola Porto Iracema das Artes desde 2013, o Curso Técnico em Dança (CTD) é totalmente gratuito e tem como objetivo formar profissionais Técnicos de Nível Médio capazes de atuar em dança como intérpretes/criadores a partir de saberes práticos e teóricos aplicáveis em contextos artísticos, técnicos, culturais e sociais contemporâneos. O CTD é reconhecido pelo Conselho Estadual de Educação pelo Parecer Nº 331/2022 com nota máxima em todos os tópicos de avaliação.
SOBRE A PORTO IRACEMA DAS ARTES
A Porto Iracema das Artes é a escola de formação e criação em artes do Governo do Estado do Ceará, instituição da Secretaria da Cultura (Secult) gerida pelo Instituto Dragão do Mar (IDM). Criada em 29 de agosto de 2013, há nove anos desenvolve processos formativos nas áreas de Música, Dança, Artes Visuais, Cinema e Teatro, com a oferta de Cursos Básicos e Técnicos, além de Laboratórios de Criação. Todas as ações oferecidas são gratuitas.
Assessoria de Comunicação Porto Iracema das Artes | Texto: Isabella Rifane (jornalista) | Supervisão e edição: Gabriela Dourado (jornalista)